02.01.2009

E N T R E V I S T A    E X C L U S I V A

Prefeito anuncia primeiras mudanças

Saem os secretários da Agricultura e Educação e vem uma técnica para a Controladoria Municipal

O prefeito reeleito de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, Carlos Roberto Souto Batista, em entrevista exclusiva aos jornalistas Raimundo Marinho, de “O Mandacaru”, e Mauri Castro, de “Folha da Chapada”, em sua residência, logo após os atos de posse para seu novo mandato, anunciou os nomes dos novos secretários da Agricultura e Educação, da mudança na Controladoria e falou das possibilidades de Livramento se consolidar como pólo econômico regional e de serviços. Revelou o que seriam os primeiros movimentos para criação de uma associação destinada a reforçar e facilitar as reivindicações, junto ao governo estadual, dos municípios da região. Disse também das dificuldades de se administrar um município do porte de Livramento, sem receita própria, e dos temores em face da crise que afeta a economia mundial, que poderá ter efeitos indesejados na arrecadação de impostos e, consequentemente, nos repasses às prefeituras. Veja a seguir:

 

Raimundo Marinho: O que muda no secretariado do senhor para esse segundo mandato?

Carlos Batista: Em primeiro lugar, eu quero agradecer as palavras de vocês na abertura da entrevista (os repórteres parabenizaram e prefeito, desejando-lhe boa sorte no novo mandado). Eu vou promover algumas mudanças, não necessariamente por que houve um mau desempenho dos secretários. Mas porque é uma prerrogativa do prefeito, do governador, do presidente, dependendo da esfera, e eu quero dar oportunidade a outras pessoas. Eu vou mudar o controle interno, onde vamos colocar uma pessoa técnica, que já trabalhou na área em municípios maiores, e que foi por nós recomendada. E vamos mudar a Secretaria da Educação, onde vamos colocar Neidinha Araújo (professora Dulcineide Araújo, irmã do diretor da Diretoria Regional de Educação – Direc 19, Moacir Araújo); e a Secretaria da Agricultura, onde nós vamos colocar Antônio Assis, conhecido Tonhão Assis (Antônio Fernando Assis). Os ex-secretários Ester Lígia (Ester Lígia Machado Almeida, da Educação) e Vinho (Elvio Nunes Dourado, da Agricultura) devem permanecer na equipe, embora em outras funções. E, no decorrer da administração, se preciso for, a gente vai promover mais algumas mudanças, mas a princípio são essas. E, como eu disse, não tem nada a ver com o desempenho, inclusive eu me dei por satisfeito, tanto com o desempenho na Agricultura quanto na Educação. Mas eu quero, é uma prerrogativa minha, e eu quero promover essas mudanças.

RM: E o senhor já tem um nome para a Controladoria?

CB: Tenho. É uma pessoa que já esteve aqui, chama-se Neide, o pré-nome dela é Neide. Ela trabalhava numa consultoria em Jequié e nos foi recomendada por várias pessoas amigas e, realmente, o pouco que nos conhecemos deu para perceber que ela é uma pessoa bastante eficiente.

RM: O que o senhor quis fazer muito, no primeiro mandato, não deu tempo, por alguma razão não conseguiu, que o senhor acha que é viável fazer agora?

CB: No primeiro mandato, nos dois primeiros anos, eu encontrei muitas dificuldades. Apesar do ex-prefeito (refere-se ao Dr. Emerson Leal) alardear que tinha deixado crédito, ele realmente não deixou crédito, porque o repasse do dia 10, o melhor repasse de todo ano, ele pode ser utilizado como pagamentos do mês anterior, no caso o mês de dezembro. E nós recebemos uma dívida pactuada em 60 meses com o INSS, que até o mês de maio de 2006, era uma verdadeira sangria no repasse, sempre no dia 10. E chegou a ponto de, quando eu tive uma audiência com o (então) ministro Almir Lando (da Previdência), ele falou que, se não conseguisse repactuar essa dívida, (ela) inviabilizaria toda a gestão. Por outro lado, nós pegamos ainda dois anos do governo Paulo Souto, que nos atendia muito bem, mas que não atendeu o município em quase nada, não sei se em função da própria situação do Estado ou por pessoas ligadas a ele, que não tinham interesse que nossa administração deslanchasse. Passei esses dois tipos de dificuldades. Quando viemos ter alguma oportunidade, apesar de tudo que houve na gestão do governo Wagner, que nós ajudamos a construir, nós conseguimos fazer algumas obras, (com) algumas emendas parlamentares. Essa obra da adutora mesmo (de Itanajé) foi uma verba extra-orçamentária que Geddel (ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional) conseguiu, ainda no ano de 2005, mas que só agora conseguiu ser realizada. E o município ficou inadimplente, de janeiro de 2005 até maio de 2006, em função dessas dificuldades que nós encontramos. Quando não era uma coisa era outra. E, realmente, passamos por sérias dificuldades. Mas eu acho que, basicamente, um município do porte de Livramento, que não tem receita própria, o gestor, ele mantendo o pagamento de pessoal em dia, mantendo a cidade limpa, o hospital e serviços acessórios de saúde funcionando, as escolas funcionando, ele já faz muito. Porque, realmente, você não tem dinheiro para investimento. Eu cheguei a falar com o governador e com o ministro Geddel que o pior município para administrar é o município do porte de Livramento, que, aos olhos de quem está de fora, acha que gera muita riqueza, mas, por exemplo, a manga não tem tributação nenhuma para o município. O produto sai in natura e até os fretes que poderiam render alguma coisa de ICMS ou alguma outra tributação, são efetuados todos em Salvador, que, você sabe, é feito através de containeres.  O município de Livramento agradece por esse terreno irrigado, agradece aos empresários, pela geração de trabalho e renda. Mas o que eu mais ponho na cabeça de fazer no município de Livramento é melhorar as condições das estradas, é melhorar a condição de saúde e educação do povo de Livramento. Acho que nós já avançamos bastante, na educação, mas precisamos avançar mais. Estamos agora em curso, ultimando as demandas para a gestão plena da saúde e, segundo o próprio secretário (secretário estadual da saúde), pode dar uma condição melhor para nós gerirmos, tanto o hospital como os outros serviços complementares de saúde. Tivemos o CEO (Centro de Especialidades Odontológicas), que foi uma gestão nossa, liberado na época do ministro Saraiva Felipe, numa audiência em que esteve presente também o ministro Geddel. E o CAPS vem funcionando a contento, vem atendendo a demanda de outros municípios, inclusive com medicações que faziam parte da farmácia básica dos municípios e os pacientes utilizavam o município de Livramento para obter esses medicamentos. Então, aqueles que forem inscritos em medicação de alto custo, podem ser de onde for, se for gente através do CAPS, temos de liberar essa medicação aqui. Agora, os medicamentos da farmácia básica, isso é uma obrigação de cada município e Livramento não pode arcar com mais esse ônus. As pessoas vinham, faziam consultas e pegavam o medicamento, deixando Livramento um pouco desfalcado. Mas isso, logo no primeiro ano da gestão, a gente já detectou e já conseguimos ir contornando mais ou menos. Eu espero ampliar o atendimento do CAPS. Espero trazer também especialistas, principalmente na área de assistência social, psicólogo e até psiquiatra, para o tratamento dos viciados (em drogas). E também melhorar o atendimento no CEO, além de manter o atendimento que vimos mantendo a muito custo, no hospital.

RM: No primeiro mandato, o senhor respondeu a algumas cobranças, consideradas prematuras, dizendo que não nasceu prefeito. Que frase o senhor colocaria, hoje, no lugar desta?

CB: A frase que eu coloco é que, nesta administração, nós vamos pautar ela na melhoria do desempenho do prefeito. Não só do gestor, que responde, em tudo por tudo, pela administração, mas também vamos exigir mais daqueles que trabalharem na nossa equipe e exigir também mais compromisso e humanizar mais o tratamento às pessoas que procuram a Prefeitura, procurando economizar e servir, principalmente aqueles mais necessitados.

RM: Além de tudo isso que o senhor já falou, quais os principais desafios que acha que vai enfrentar no atual mandato?

CB: Basicamente, é nessas áreas que eu falei, assistência social, educação, saúde. Está me preocupando, também, uma coisa que antes só os grandes centros se preocupavam, que é a questão da segurança. Porque, em função da pressão que os marginais estão tendo nos grandes centros, eles estão vindo para cidades menores. E Livramento é um pólo regional. Já falei com o subsecretário da Segurança Pública, que aqui precisa de um reforço, porque, nos dias de sextas-feiras, você é testemunha disso, circula muito dinheiro em espécie, aqui no município de Livramento. Também já fiz gestão junto à Secretaria (estadual) de Ciência e Tecnologia, para conseguirmos câmaras, pelo menos no circuito onde ficam as agências bancárias, a lotérica e aqueles locais onde se fazem pagamentos de tudo quanto é carnê, através de códigos de barras. E, como disse e repito, sempre melhorar na área de saúde, educação, onde um dos pleitos junto com a Diocese, mas que nós também tínhamos colocado para a deputada Marizete (Marizete Pereira, do PMDB, esposa do vice-governador da Bahia, Edmundo Pereira) e o ministro Geddel, tendo também um apoio muito forte e uma orientação muito boa da parte de Eduardo Lessa (procurador da Uneb), que é filho aqui da terra. É uma universidade pública e presencial, no município de Livramento. Eu tenho a impressão, não sei, inclusive estou tentando marcar uma audiência, com a presença do bispo (Dom Armando Bucciol, da Diocese de Livramento de Nossa Senhora), a minha pessoa e a deputada Marizete, até com o governador, para promover alguma gestão, mas eu tenho a impressão que um curso superior à distância, talvez já seja uma realidade no município, um só, não, vários, já este ano. E o curso presencial é uma coisa que o reitor não tem autonomia para criar, ele depende de dotação orçamentária do governo estadual. Então, levando o “abaixo-assinado” que foi feito no município, também coloquei minha assinatura, o bispo se dispondo a ter uma audiência com o governador, juntamente com a nossa pessoa. E o local onde nós já temos aqui e imaginamos que possa atender muito bem a cursos superiores presenciais, que é o Humberto Leal (Colégio Estadual Humberto Leal), que hoje está com um acesso melhor, ali no Taquari, devido àquela avenida onde nós fizemos a pavimentação asfáltica. Então, eu acho que preenche a vários requisitos. E foi uma grata surpresa também saber que o município que é premiado com o “Selo Unicef”, onde alguns parâmetros na área social melhoraram, de saúde e educação também, servem para reforçar ainda o pedido de um curso superior público, que é um anseio da quase totalidade da juventude livramentense, que não teve a oportunidade, que os pais realmente não tem condições de enviá-los para o estudo nos grandes centros. Hoje, Conquista (cidade de Vitória da Conquista, na Bahia) absorve muita coisa, Ilhéus, Feira de Santana, mas o grosso são Conquista e Salvador, e sei das dificuldades que esses jovens enfrentam. Então, é um pensamento nosso também lutar para conseguir isso aí para Livramento.

RM: O que é necessário fazer para consolidar Livramento como pólo econômico regional?

CB: Olha, eu acho que, por si só, já é um pólo, porque há uma demanda espontânea dos municípios que giram em torno de Livramento, como eu cito: Dom Basílio, em menor escala; mais Rio de Contas e Jussiape, que já tem uma demanda espontânea de pessoas que vem aqui fazer comprar, fazer consultas, na área de odontologia, na área de medicina, uma vez que Livramento já conta com vários especialistas, atuando aqui no mercado, principalmente na área médica. Eu acho que é necessário que haja o reconhecimento por parte das entidades governamentais, para transformar Livramento.  Talvez a proximidade com Brumado atrapalhe um pouco. Mas, se Brumado é um pólo, Livramento pode ser um pólo também, englobando outros municípios que ficam em seu entorno e que as demandas da maioria das pessoas se resolvem em Livramento. Eu vou me esforçar bastante para que Livramento passe a ser um pólo reconhecido, como é a Região Metropolitana de Salvador, como é o sudoeste para Vitória da Conquista, o oeste para Barreiras, o norte, em Juazeiro. Não comparando em termos de tamanho e importância, mas Livramento faz por merecer, ou ser colocado como um pólo realmente ou como uma micro-região. E talvez obter algumas benesses, em função disso. Porque a gente sabe que os municípios que pertencem às regiões metropolitanas tem algumas facilidades, como aqueles municípios pólos tem serviços médicos públicos de melhor qualidade, uma oferta maior de prestação de serviços e logicamente atrai mais pessoas. Hoje, eu digo que Livramento é um pólo de fruticultura irrigada, é o segundo maior produtor de manga e, individualmente, com relação a pequenos produtores, é o primeiro. Porque, na área de Juazeiro, tem grandes produtores, com grandes áreas na mão de poucos produtores, e aqui agente tem a maioria, são pequenas áreas, na mão de muitos pequenos produtores. E, hoje, o maracujá se consolida como o primeiro da Bahia, também é uma cultura viável para o município. Então, eu acho que ele já é um pólo regional nessa área da fruticultura irrigada.

RM: O senhor, não só pelo sucesso na eleição, como pelo próprio município que dirige, é considerado hoje uma grande liderança regional. O senhor vê viabilidade na candidatura e eleição do ministro Geddel Vieira Lima ao governo da Bahia, nas próximas eleições?

CB: Em primeiro lugar, eu acho prematuro falar em candidatura a governo. O ministro Geddel é hoje um dos principais ministros do governo Lula. E você vê como é a política, Geddel era um dos críticos mais ácidos do presidente Lula e hoje é um dos ministros que ele (o presidente) ... – eu estive no Recife, no encerramento do “Selo Unicef”, tinha 11 ministros e só ele foi citado, pelo trabalho à frente daquela grande obra, que é, uns falam transposição, mas é “interposição de bacias”, que é o nome técnico, mas todo mundo conhece como “transposição do (Rio) São Francisco” – e o presidente fez bastantes comentários elogiosos e ele hoje é uma liderança na Bahia incontestável, uma vez que o PMDB conseguiu eleger, com João Henrique (prefeito de Salvador), 115 prefeitos. Não significa necessariamente que isso determina a vitória numa eleição majoritária no Estado, porque o governador Wagner mesmo cansou de falar que só 50 prefeitos o apoiariam e o povo, realmente, lhe deu uma vitória que surpreendeu a tudo e a todos, porque foi no primeiro turno. Trabalhava-se e lutava para ter um segundo turno. Mas, já nos últimos comícios que eu tive a oportunidade de estar presente, tanto o vice-governador, Edmundo, como o próprio governador já falavam na vitória no primeiro turno. Eu acho prematuro falar, eu acho que tanto o ministro Geddel como o governador Wagner tem tudo ainda para manter essa coalizão que foi feita e eu acho prematuro, mas se o destino reservar para ele essa oportunidade, eu acho que ele vai ser bastante inteligente para saber qual é a hora certa dele enfrentar uma candidatura a nível de governo estadual. E eu tenho para mim que é muito cedo para falar disso, porque um ano, quase dois anos, em política é muito tempo. E eu acho que ambos vão avaliar se é realmente a oportunidade. O governador já está decidido, declaradamente, que vai para a reeleição. E eu acho que eles dois têm que avaliar, principalmente o ministro Geddel, que, como não canso de repetir, apesar de obter esse grande número de prefeituras, não necessariamente consolida como se todos iriam realmente votar nele e, muitas vezes, o prefeito pode dar o apoio e a população não acompanha. Então é difícil você fazer uma previsão, é prematuro e difícil você fazer alguma previsão a partir do quadro atual. Só sei que são lideranças importantes e o ministro Geddel se consolida até nacionalmente, porque a vitória que o PMDB, em termos de Bahia, talvez, proporcionalmente, tenha sido a maior vitória do Brasil. E tem apoios importantes a nível federal, como eu tive a oportunidade de, em Brasília, ver o presidente do partido e provável presidente da Câmara, Michael Temer, tecer comentários elogiosos à pessoa de Geddel e o próprio governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, também lá em Brasília, e o senador Pedro Simon e tantos outros que são lideranças importantes e que  referendam Geddel como liderança nacional também do PMDB. Então, em resumo é isso, eu acho que é prematuro ainda para falar sobre candidatura ao governo do Estado.

Mauri Castro: Com a experiência atual e um segundo governo pela frente, o senhor espera se consolidar como um dos maiores prefeitos de Livramento?

CB: O primeiro mandato me deu bastante experiência. E eu quero fazer a minha parte. Eu, sinceramente, não quero, em termos de comparação, mas só essa obra que a gente conseguiu, através do ministro Geddel, talvez, individualmente, possa significar a maior obra que já veio para Livramento. E a gente é o seguinte, quando a gente administra um município do porte de Livramento a gente tem que dar prioridade a algumas coisas. Aquilo que eu falei anteriormente de atuar

MC: O voto de consenso na eleição na Mesa Diretora da Câmara significou o voto da oposição no seu candidato a presidente. Mesmo assim, o senhor considera que possa haver um grupo de oposição, no município, capaz de atrapalhar sua administração nos próximos quatro anos?

CB: Lógico que existe grupo de oposição. O próprio Nelson Rodrigues já disse que a unanimidade é burra. A demonstração feita na Câmara, não digo que foi um fato isolado. Na última eleição de Marilho, o vereador Ricardo (Ricardo Matias, do PT), só para marcar posição, votou nele próprio. Mas já podiam ter sido considerado um consenso, as eleições de Marilho, que conduziu os destinos da Câmara durante três gestões, de dois anos cada, quer dizer, são seis anos. Nós fizemos ver, tanto a ele quanto a outros companheiros, que era chegada a hora de dar oportunidade a outra pessoa, a outro companheiro. E nós, até como uma homenagem, que Ilídio (Ilídio Castro, o novo presidente da Câmara), ao concluir este mandado, terá ficado 24 anos como vereador, ininterruptos, no município de Livramento, e existindo uma oportunidade veio por merecer. E também por iniciativa própria ele procurou os outros, os vereadores da bancada de oposição e conseguiu esse consenso. Para mim, foi um fato inédito. Agora, isso não significa que não exista oposição, por parte do grupo do ex-prefeito (Dr. Emerson Leal), do deputado, filho dele, Nelson Leal. Eles marcaram posição nas eleições e, para alguns observadores, até surpreenderam, pelo número de votos que tiveram. Mas a eleição é passado, a gente olha para frente. Mas sempre haverá de existir oposição em Livramento.

MC: O senhor foi um dos poucos prefeitos reeleitos, na região. Isso, mais a condição de pólo regional atribuída a Livramento, poderiam levar ao entendimento de que o senhor virá a se transformar em líder político predominante na área de influência do nosso município?

CB: Como eu, dentro da minha humildade, gosto de repetir, não penso em termos de promover alguma demanda para me transformar em líder regional. Eu sei que foram poucos os prefeitos reeleitos. Aqui mesmo na região, se eu não me engano, foram Macaúbas, Tanque Novo, Livramento e Brumado. Nos outros municípios, parece que houve mudanças. Houve mudanças grandes, inclusive, nas câmaras de vereadores. Em Livramento, também a gente conseguiu, com muita dificuldade, nos últimos dois anos, fazer com que o povo entendesse. Não fiz obras faraônicas, não tive condições de fazer muita coisa, mas nós atuamos fortemente nas áreas que eu citei. E uma das coisas que mais pode ter ajudado foi o Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar). A gente aumentou muito os recursos para atender os “pronafianos”, fazendo um trabalho sério, sem fazer uso político, trazendo funcionários do Banco do Nordeste e em parceria com o Banco do Brasil, aqui. Fizemos o Credi-Bahia, que existia, mas nunca teve uma operação. Hoje, podemos ter ultrapassado um milhão de reais emprestados para pessoas que nem conta em banco tem. E posso dizer que, talvez, a segunda maior fonte de renda, para os repasses municipais seja o Bolsa Família, que hoje atende a mais de quatro mil beneficiários e circulam em Livramento, provenientes do Bolsa Família, 344  mil a 350 mil reais por mês, um dinheiro que é todo investido no comércio de Livramento. O beneficiário do Bolsa Família não compra artigo de luxo, compra gêneros alimentícios, quando muito, algum utensílio de investimento, uma sandália, mas tudo gira em Livramento. Estão aí três gestões que mexem com a economia, mexe com o bolso, além de apoio importante dos empresários, que veio em nosso nome. Houve realmente uma mudança das práticas políticas que foram colocadas aqui durante longos 20 anos. Nós vimos que talvez seja essa a diferença. Agora, quanto à liderança regional, eu realmente tenho um bom relacionamento. Eu telefonei para todos os prefeitos eleitos, parabenizando-os pela vitória, independente de partido. E, agora, vai vir a eleição na UPB (União das Prefeitura da Bahia) e nós temos sido constantemente solicitados e o PMDB deve ter um candidato, candidato relativamente viável, porque o maior número de prefeituras é do PMDB. Então, dependendo da composição com um ou outro partido, é um forte nome e esse nome é o prefeito da Lapa (município de Bom Jesus da Lapa), Alberto Maia, irmão do deputado (estadual) Artur Maia. Então, tenho um bom relacionamento, mas não penso nisso, eu penso no meu Livramento, aqui, para a gente fazer uma boa gestão.

MC: E sobre o relacionamento com os prefeitos da região?

CB: Meu relacionamento é muito bom, com a maioria dos prefeitos circunvizinhos. Nós estamos inclusive – e é uma coisa que estou falando em primeira mão a um outro veículo, porque foi o diretor do Eco (jornal editado em Paramirim), que, junto com Dr. Júlio de Paramirim, provocou uma reunião - nós estamos querendo formar uma “Associação do Vale da Serra Geral e Bacia do Paramirim”. Nós hoje pertencemos à Associação dos Municípios do Vale do São Francisco e Serra Geral - Livramento Dom Basílio e até Rio de Contas. E a gente quer fazer uma Associação para pegar esse eixo de municípios que vem de Oliveira dos Brejinho, Boquira, Macaúbas, Paramirim, Rio do Pires, Tanque Novo, enfim o Vale do Paramirim, e aqui um pouco da Serra Geral. E nós fizemos a nossa primeira reunião, foi um ponta-pé inicial, que considero muito importante, Caturama também. E a maioria dos prefeitos manifestou o desejo de a gente criar essa Associação, porque as cobranças são semelhantes e a gente fazendo uma reivindicação em grupo acho que é muito importante e fortalece mais o pleito. Eu dou o exemplo das estradas, um problema que pega desde Vitória da Conquista até o entroncamento lá de Ibotirama. Quem sabe a gente solicita aqui esses 43 quilômetros que faltam de Jussiape até Abaíra, para a gente interligar (a região) com a Salvador-Brasília, também. É um pleito coletivo, que nós, como membros de uma Associação, podemos marcar uma audiência coletiva e dizer “Governador, o pleito de toda região é esse”. E depois vem outras demandas, um hospital regional, que atenda a essa população, que a gente vê como carente, que eu sou médico e vejo que na região sudoeste é uma lástima o paciente oncológico, porque na “químio” e “radioterapia”, que o SUS remunera bem, todo mundo, os empresários gostam de atuar, mas nas outras facetas o paciente fica a depender da ajuda de amigos, de ajuda da prefeitura e, muitas vezes, a prefeitura não pode arcar com todos os custos. O diagnóstico por imagem também é uma demanda que deixa todo prefeito angustiado, são aqueles exames especializados, como ressonância, tomografia com contraste. A parte de hospital também, apesar de a gente ter uma abertura muito grande. Temos dois profissionais, na área médica, que ajudam muito o município de Livramento, que são o Dr. Halley (Dr. Halley Spínola) e Dr. Oldemar (Dr. Oldemar Spinola) e, agora, mais recentemente, também o Clériston, todos oftalmologistas. Nós vemos que o paciente fica órfão desse tipo de serviço também. O mapeamento de retina, uma capimetria, esses exames mais especializados, até o ultrassom oftalmológico, tudo é feito em caráter particular, ainda, nesta região. Então, a gente espera que, coletivamente, a gente possa também brigar para conseguir instalar serviços que possam atender a demanda dessa grande população, nessas áreas específicas. Eu poderia falar de muitas outras especialidades aqui, mas só estou dando exemplos, que são os mais gritantes.

MC: Mais uma pergunta política. Fala-se também na possibilidade do ministro Geddel Vieira Lima ser candidato a vice-presidente da República, numa provável chapa com a também ministra Dilma Rousself, apoiada pelo presidente Lula. O senhor acredita que isso seja possível?
 
CB: Até em tom de brincadeira, já se fala. Em Recife, também na entrega do “Selo Unicef”, não sei se foi o ministro José Múcio ou Marcelo Deda, quando terminou o ato solene, a ministra Dilma Rousself se posicionou como candidata, tirando fotos com todo mundo, e um dos dois, eu não vi, estava de costa e não tinha o timbre da voz deles definido, quando Geddel ia se encaminhando para sair, um deles disse, em tom de brincadeira “e o vice não vai ficar para a sessão de fotos?”, aí Geddel deu uma risadinha e saiu. Então, existe já conversa nesse sentido. É isso que eu digo, que é muito prematuro falar.  Eu acho que até o próprio presidente Lula vai tentar o nome da ministra Dilma. Só que eu acho que entre ele e a equipe dele deve ter um limite para ela atingir, um certo patamar que a torne uma candidata viável. Coisa que eu acho que ela não atingiu ainda. E o nome Lula a gente vê, em todo lugar que a gente vai, é um nome que é muito maior que o partido e, hoje, o partido, o PT, tem vários nomes bons, mas não tem um nome assim de peso, com a ascensão que Lula tem. Você mesmo deve ter participado de movimentos em Salvador, a gente está encima de palanque e quando a gente vê, aqui em Conquista mesmo, naquela comunidade quilombola, houve isso, aquela algazarra, aquela brincadeira e quando é anunciado que Lula vai falar, parece que hipnotiza todo mundo e ele, mesmo com erros de português e da forma que fala, domina o público. Eu acho que não surgiu ainda esse nome no PT. Pode surgir com a ministra Dilma ou com outro nome. Existe esta gestão concreta de Geddel ser candidato a vice e eu acho que algumas pessoas do PMDB defendem a idéia, inclusive os dois que eu citei – Sérgio Cabral e Michel Temer. O próprio Orestes Quércia que já está com o pé lá, deu declaração na Folha de São Paulo (jornal) que Geddel seria um forte nome também, por ser do Nordeste, e ele (Quércia) é de uma ala do partido que está mais propenso a José Serra, mas ele respeita o nome do ministro Geddel. Ele (o ministro Geddel) já declarou que a deputado federal não será candidato. Então, eu vejo essas duas saídas. E a depender das conversações, a depender de como vai andar a carruagem, em qualquer uma dessas posições aí estaria bom para o ministro Geddel também, assim como para o Nordeste e a Bahia, porque ele tem ajudado muito a região.

MC: Para encerrar, pode deixar a mensagem do senhor de novo ano e sobre o novo mandato!

CB: Eu quero desejar a todos um feliz ano novo, apesar de todo o prenúncio, que o mundo todo está passando por uma turbulência muito grande, a gente fica apreensivo. Sempre estou ligando para a CVM, para saber se já tem algum estudo sobre queda de receita, porque com essa crise, como Lula fala, se o comércio não vende, a indústria não vende, desemprega, não gera imposto de renda pessoa jurídica, que é o carro forte da receita da União. Então, se cai a receita da União, da arrecadação de impostos, cai também o repasse aos municípios e municípios como Livramento e outros de menor porte vivem basicamente dos repasses constitucionais. Isso tem que preocupar a gente como gestor, mas eu tenho confiança, porque, nos dois eventos recentes em que participei com a presença do presidente Lula, ele disse que a parte dos programas sociais do governo federal, corte de onde cortar, já está garantida essa parte e isso vai servir muito aos municípios. Parcerias importantes com a Caixa Econômica, Banco do Brasil, principalmente Caixa Econômica e Ministério das Cidades. Falou que não vai faltar recursos para casas populares, programa Bolsa Família e tantos programas que amparam o social. E, no mais, garantimos à população que, de minha parte e daqueles que vão compor a nossa equipe, nós vamos cobrar um compromisso maior, um desempenho maior e um trato mais humanizado com as pessoas, que é uma obrigação de quem recebe os seus salários à custa do dinheiro público. Eu estou bastante otimista, porque eu tenho o compromisso do ministro Geddel de que tendo bons projetos não vão faltar recursos na área de infra-estrutura e a gente já está correndo atrás de algumas gestões. Então, minha palavra é de otimismo, confiança e esperando que o nosso povo possa cobrar também da gente um melhor desempenho nesse mandato.