Artigo – 04.12.2016

Tenha um encontro consigo

 

Salvador Luiz Silva Santos

Professor

(Continuação)

Embora se esteja na maioria das vezes, receptivos a novas informações para o nosso crescimento mental, emocional e espiritual é necessário um posicionamento mais seletivo. A “filtragem” de tais pensamentos se faz necessária para melhor absorção do que realmente importa. Para isso, critérios devem ser utilizados, para que as informações não se transformem em lixo mental que rouba a tranquilidade, desarmoniza as emoções, aumentando as taxas de estresse, podendo assim, instalar o caos mental.

As redes sociais têm poder de viralização, ou seja, disseminar mensagens com uma velocidade estonteante para os quatro cantos do mundo. O outro nos desperta interesse, instiga a nossa curiosidade, rouba a nossa subjetividade, criando assim um elo de dependência entre nós e o alheio.

Ao abrirmos mãos daquilo que nos é de direito (poder de escolha), passamos a ser governados pela vontade do outro que sobrepõe a nossa, tornando-nos marionetes enclausuradas no poder dominador do nosso algoz mental. Somos portadores de racionalidade, o que pressupõe o poder de escolha diante das ofertas que nos são apresentadas em momentos não raros.

Os meios de difusão de informação (WhatsApp, Facebook, Twitter, Messenger, Instagram etc.) conseguem rivalizar com o bate papo nosso de cada dia, onde o artificialismo dialógico se faz presente em troca de mensagens frias, desprovidas de emoção e legitimidade. Segundo Christine Carter, ela muitas vezes cria uma ilusão de proximidade, mas sem as alegrias, os benefícios e os desafios que acompanham os relacionamentos reais.

  Também não se pode demonizá-la, culpando-a pela ausência do contato direto com o próximo. Os relacionamentos virtuais entre pessoas, não pode e não deve ser abolido, bastando com isso comedimento entre os seus pares. Afinal, o uso constrói, o abuso destrói.

Ao pautar a sua existência nas “curtidas” e “compartilhadas” que as mensagens e fotos alcançaram desde quando foram “jogadas” nas redes sociais, denota um comportamento visível de desejo de aprovação social, o que o coloca a mercê do posicionamento alheio para a sua satisfação pessoal.

A mente humana carece de momentos de paz, para poder externar seu potencial. É preciso ter controle da própria vida e fazer a gestão das próprias escolhas, dos próprios pensamentos, isto, só é possível, quando olhamos para o nosso “interior” e investigamos a origem das nossas reações emocionais, a origem dos nossos pensamentos. É chegado o momento da relação intrapessoal, ou seja, a investidura de uma relação mais prazerosa com o nosso Eu, tão carente na multidão dos nossos “amigos” virtualizados. Renato Alves nos adverte que as pessoas se aproximaram virtualmente e se afastaram física e afetivamente.

O enclausurar-se, fugindo de tudo e de todos não seria visto como uma atitude equilibrada, visto que, somos seres gregários, ou seja, nascemos para viver em sociedade, havendo, portanto, uma necessidade de interação. O que se discute não é o isolamento improdutivo, mas sim, o estar consigo mais vezes.

Tenha um caso de amor com aquele que te acompanha desde o teu nascimento, e finda com a tua partida; ame-se ao ponto deste teu amor construir pontes que te aproxime da tua verdadeira essência e, consequentemente, provoque uma melhor interação com o teu semelhante.

 A palavra convivência pressupõe não somente o está com o outro, viver em conjunto, ter parceria com os mais próximos, tanto no setor familiar, no trabalho e na vida social. A convivência também pode se dá na aproximação com o nosso próprio Eu, grande companheiro e confessor das nossas batalhas internas.

Viver com sentimento que te preencha, sem a necessidade das “muletas emocionais” que estamos sempre acostumados a usar, quando algo não corresponde as nossas expectativas. Estas muletas representam a nossa total falta de enfrentamento, então, buscamos no outro, a solução que se encontra em nós mesmos. Nós somos o céu e o inferno da nossa vida.

 Ainda não alcançamos o patamar de super-humanos, estamos em processo de lapidação da nossa pedra bruta que anseia das mãos cuidadosas do seu construtor, dedicação e esmero para a conclusão da obra. Esta construção se dá com as nossas inquietações e indagações do nosso dia a dia. Dirigir a si mesmo dói, pois não é uma tarefa fácil, mas lembre-se: A busca irrefreável no combate a tudo aquilo que ofusca o nosso “bom viver”, deve ser algo constante em nossa vida.

No disputado mercado dos livros de autoajuda o renomado escritor Eckhart Tolle autor do best-seller “O Poder do Agora”, nos assevera sobre os nossos tesouros internos e, que nunca ousamos explorar. Segue o fragmento.

“Por mais de trinta anos um mendigo ficou sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise. Até que um dia, uma conversa com um estranho mudou sua vida: – Tem um trocadinho aí pra mim, moço? – murmurou, estendendo mecanicamente seu velho boné.

– Não, não tenho – disse o estranho. – O que tem nesse baú debaixo de você?

– Nada, isso aqui é só uma caixa velha. Já nem sei há quanto tempo sento em cima dela.

– Nunca olhou o que tem dentro? – perguntou o estranho.

– Não – respondeu. – Para quê? Não tem nada aqui, não!

– Dá uma olhada dentro – insistiu o estranho, antes de ir embora.

– O mendigo resolveu abrir a caixa. Teve que fazer força para levantar a tampa e mal conseguiu acreditar ao ver que o velho caixote estava cheio de ouro. Eu sou o estranho sem nada para dar, que está lhe dizendo para olhar para dentro. Não de uma caixa, mas sim de você mesmo”.