VERSICULOS DE CIDADANIA

Salvador Ribeiro de Souza (*)

caxiao.ribeiro@gmail.com

O que é cidadania? Pode se dizer que cidadania é a arte de viver em comunidade, desenvolvida ao longo de suas existências, por abelhas, cupins, formigas, o homem, entre tantas outras espécies sociáveis deste planeta, a fim de lhes garantirem sustentabilidade coletiva e perpetuação das mesmas. Mas, entre estas espécies, o homem é a que pior tem desenvolvido essa arte, embora seja a única que tem capacidade de raciocinar, pensar e prever.

Entretanto, estamos condenados a conviver com a fome, a miséria, a corrupção e a violência, de um lado, e, do outro, com a riqueza, abundância, exploração e arbitrariedade. E por que isto acontece? É justamente porque, ao invés de praticamos a cidadania, praticamos a ambição, a hipocrisia, a heresia e o egoísmo. O correto de nossa parte seria desenvolver ações e atividades voltadas a promover o progresso, sustentabilidade individual, mas também da coletividade.

Se déssemos atenção e importância aos interesses coletivos, o mesmo que damos aos individuais, certamente a fome a miséria a exploração, a corrupção, a desigualdade inexistiriam e, assim, a sustentabilidade e a prosperidade estariam garantidas. Isto não acontece devido à ausência de cultura e educação, o que nos conduz à IGNORÂNCIA.

Existem dois tipos de ignorância, a que resulta da falta de conhecimento e intelectualidade e outra da leviandade e da omissão, aquela onde o sujeito vê o erro e não o admite, não o reconhece, o que considero a imundice, o lixo humano. Pois ela é a síntese da falta de cidadania.

Como se pratica a cidadania? Pratica-se agindo, comportando e atuando de forma a que todos os indivíduos de uma comunidade, cidade, nação, enfim, todos os habitantes deste planeta possam prosperar social e economicamente e que tenham acesso pleno aos bens e serviços públicos e coletivos a que tem direito. Mas também conservando, protegendo, zelando estes bens como se fossem o nosso patrimônio individual.

Esta seria a verdadeira pratica da cidadania. Uma das regras básicas da cidadania é: o que não se quer para si não deve desejar ao próximo, ou melhor, o que não se deseja para si, não se deve desejar a mais ninguém. Mas vou muito além: não se deve desejar a nenhuma outra espécie viva deste planeta, porque a vida planetária é recíproca e as espécies interdependentes. Precisamos pensar e agir ecologicamente correto, já que a consciência ecológica está intrinsecamente ligada à cidadania. Mas não vou, nesta oportunidade, me ater a este tema, reservarei à próxima.

Todo ato de cidadania é uma ação política, não necessariamente política eleitoral (eleição). Porém, a considero como a mais importante ação na vida social e coletiva da espécie humana, desde quando exercida com cidadania, onde o interesse da coletividade esteja acima dos individuais. Infelizmente, no Brasil, estas atitudes, este comportamento estão longe de serem alcançados. A política eleitoral que cito não se refere apenas a eleições de prefeitos, governadores, deputados etc., mas a todo tipo de escolha de interesse coletivo, seja liderança comunitária, dirigente de entidade de classe, cooperativa, associação, sindicato etc.

É muito comum condenarmos, criticarmos a incompetência, a desonestidade e a corrupção dos homens públicos, mas, antes de tudo, se fizermos uma reflexão iremos perceber que a causa de tudo isto, de certa forma, está na nossa falta de pratica cidadã, pois somos nós que os elegemos, em muitos dos casos, repetidamente. E, às vezes, não é por falta de opção, porque, em muito dos casos, elas existem. É isto que nos tira a legitimidade de exercer o nosso direito de cidadão (reclamar, protestar e criticar), pois não cumprimos com os nossos deveres de cidadãos, no ato da escolha (votar). Sei que uns agem assim por falta de intelectualidade, de conhecimento e de discernimento, outros por leviandade, hipocrisia e omissão, tanto da parte de nós eleitores como dos políticos.

O voto é um bem de interesse público e coletivo, por isso, deve ser aplicado como tal, levando em conta tão somente os interesses coletivos e nunca os individuais. Mas não é isto o que acontece. Cito como exemplo: quando necessitamos contratar o serviço de um pedreiro, um encanador ou qualquer outro profissional, a primeira medida que tomamos é contratar o mais qualificado e mais competente, mesmo sendo o mais caro. E, se por acaso, ele não executa o serviço como combinado, certamente nunca mais o contrataremos, mesmo sendo parente, amigo ou gente boa e, além disso, não o recomendaremos a ninguém.

Nas eleições, contrariando esta regra, votamos em candidatos apenas por ser parente, amigo, legal ou por ser do grupo que apoiamos, mesmo sendo despreparado, incompetente e desonesto. E, quando não cumprem com os deveres e compromisso, de interesse coletivo, nas eleições seguintes ainda continuamos a votar nessas tais figuras. É assim que deixamos de praticar a cidadania, para praticarmos a ignorância, a leviandade e a omissão.

(*) Salvador Ribeiro de Souza, também conhecido como “Caxião”, é de Lagoa Real, na Bahia.