Artigo – 25.05.2011

O APOCALIPSE

Salvador Ribeiro de Souza (*)
caxiao.ribeiro@gmail.com

Companheiros terráqueos, falsos Homo Sapiens, que se auto-declararam donos da patente de imperadores vitalícios e únicos donos do planeta terra, ante as demais espécies habitantes desta frágil esferinha azul, vagante no pequeno sistema solar, parte da galáxia (via-láctea), ínfima porção espacial do infinito universo chamado COSMOS. 

Começamos a nos considerar donos exclusivos deste planeta, desde a pré-história, quando saímos das cavernas e começamos a formar sociedade, passando a viver em comunidades, vilas, cidades e assim por diante. Estas transformações fizeram com que, em nós, aflorassem os piores sentimentos desta raça, a qual, equivocadamente, chamamos de humana. Sentimentos estes que são: inveja, ambição, desejo de poder e de domínio, que, para tal, é indispensável deter bens, posses, capitais e riquezas, as quais foram e sempre serão retirados da mãe terra que, inegavelmente, pertenceram e pertencem a todo o conjunto de seres vivos deste planeta.

Estes nefastos sentimentos, com o passar das eras, evoluíram de tal forma que nos levou a ignorarmos e subjugarmos a limitação e a interdependência dos recursos e fenômenos naturais deste planeta, o que nos conduziu a, através de maquinas, ferramentas, fogo e artefatos de caça e pesca devorar e devastar quase toda a cobertura vegetal natural secular, nascente, rios, lagos, além da fauna deste frágil  planeta.  O problema é que só agora começamos a perceber que este planeta não é aquele mundo infindável, ilimitado e inesgotável que imaginávamos. Mas apenas um micro-sistema, onde tudo que nele existe está interligados e interdependentes, e que um acidente ambiental, uma devastação aqui provoca alterações climatológicas acolá e etc.

Companheiros Homo Sapiens de outrora, a verdade esta aí, a hora chegou, o aquecimento global é real e as conseqüências serão desastrosas, não temos para onde correr. O clima virou de ponta cabeça. As chuvas já não sãs as mesmas em quantidade, regularidade, formalidade e temporalidade. O mar está subindo, os campos desertificando, os rios secando e as geleiras derretendo. Companheiros veteranos do sertão! Para elucidar os fatos e os acontecimentos, lhes pergunto cadê a garoa, a neblina que há muito não se vê e que antes serrava semanas seguidas nos meses de junho e julho? Cadê o sol escaldante do mês de agosto? E as chuvas certeiras do mês de outubro que não cai mais? Cadê o inverno cessado de novembro e dezembro que nunca mais vem? O brejo, o atoleiro, aguaceiro de março? Juntos foram as nossas lavouras de arroz e milho e etc. Já não temos mais dúvidas, por que isso tudo esta acontecendo. Imagine há 500 anos como era a vegetação da sua fazenda, da sua cidade, deste sertão e de todo o planeta? Estava todo coberto de matas frondosas de arvores seculares, que impediam que o sol incidisse diretamente na terra nua e descampada, como acontece hoje, quanto calor e radiação a mais estas alterações podem provocar. Eis uma das causas do aquecimento global!

Companheiro, a batalha está quase perdida, temos pouco a fazer. Pois chegamos a um grau tão elevado de consumo, que é quase impossível diminuir significativamente o nível de exploração e devastação da mãe terra. Já que estamos convertidos em sociedade de consumo e não temos como abster-nos de produtos como a eletricidade, os últimos aparelhos e instrumentos do transporte, da comunicação da medicina e etc. e etc. Já que muito destes instrumentos e artefatos tecnológicos são usados para reparar partes das pestes, males e tragédias que tem como causa este modelo desastroso de organização social que caminha para sua autodestruição e de toda a vida terrestre.

Sabendo-se que a matéria prima usada na confecção de tais artefatos, de uma forma ou de outra, são extraídos do planeta terra e são finitos, até porque ainda não conseguimos criar nada, apenas transformar. Só conseguiríamos reparar os danos que causamos a este planeta em longo prazo, se pudéssemos voltar ao modelo de organização social de nossos ancestrais pré-colombianos, onde a produção era apenas para o auto-consumo, a sobrevivência, inexistindo ambição, luxo e casta social, todos eram iguais, comiam e se vestiam igual. Este convívio respeitava a reciprocidade do meio-ambiente, do ecossistema. Mas, enquanto isto não for possível, devemos ter o compromisso de tentar desacelerar a devastação e a tragédia, cada um fazendo a sua parte. Mude seu estilo de vida, abstenha-se de produtos supérfluos e descartáveis, reduza seu consumo e diga não ao luxo. Ao adotar estas atitudes, estamos contribuindo, e muito, para amenizar esta mortal devastação a que está submetido o nosso planeta. COMPANHEIROS O TEMPO E O PLANETA NÃO ESPERAM.

(*) Salvador Ribeiro de Souza, também conhecido como “Caxião”, é de Lagoa Real (BA)