Maestro do sertão – 17.12.2011

Rio de Contas festeja o
centenário de Esaú Pinto

A cidade de Rio de Contas celebra missa, hoje, na igreja de Santana, em memória de um dos seus mais festejados artistas, o maestro Esaú Pinto, que completaria 100 anos, amanhã, se vivo estivesse. Ele nasceu naquela cidade, em 18 de dezembro de 1911, falecendo aos 73 anos, em 28 de agosto de 1985. Era filho de Alvina Laphetá Barbosa Pinto e Joaquim Conceição Pinto. Hoje ele dá nome à bonita fanfarra da cidade.

Conforme relata o O Riocontense, publicação do então Conselho Comunitário Riocontense (OUTUBRO/1985), Esaú Pinto revelou muito cedo o dom artístico, no campo da música. Iniciou seu aprendizado com o próprio irmão, chamado Antônio e foi aluno do célebre e velho músico Rogaciano Vitalino Rodrigues, que lhe presenteara com um não menos velho instrumento musical. Era um trombone emendado com cera de abelha.

Ainda segundo O Riocontense, com 8 anos de idade, ele ingressou na Lira Guarani, onde músicos se cotizaram e lhe ofereceram um equipamento novo, um bombardino. Mas ao falar do assunto em sua autobiografia, ele conta diferente. Aos 15 anos, já regia e compunha peças musicais. Para sobreviver, ensinou música em Arapiranga e Mato Grosso, mudando-se, posteriormente, para Espinosa-MG.

Das Minas Gerais, “retornou para Piatã, depois Catolés e, finalmente, Rio de Contas, onde se radicou, exercendo sua tão amada atividade musical e sobrevivendo como farmacêutico. Compôs dobrados, canções, valsas, cantatas e hinos religiosos. Sua última composição foi o hino dedicado a Nossa Senhora Santana”.

Maestro da Lira dos Artistas durante muitos anos, tinha como filosofia de trabalho a perfeita integração entre todos os membros do grupo, nos quais infundia respeito e harmonia, de que era exemplo, com seu carinho, humildade e dedicação.

Como farmacêutico, apesar de haver cursado apenas o terceiro ano primário, foi um grande conhecedor leigo da Medicina e atividades de laboratório. Na ausência de médico, sempre procurava passar o que sabia aos necessitados. Dedicou-se, também, intensamente e de forma despojada e com amor a trabalhos de assistência social.



Sobre ele, escreveu o maestro Fred Dantas:

O mestre de música Esaú Pinto é filho prodígio da cidade de Rio de Contas, situada na Chapada Diamantina, a 748 Km de Salvador. Tradicional lavra de ouro e diamantes, a cidade guarda a lembrança dos anos prósperos: a bela arquitetura das casas, a cadeia e a igreja de Senhora Santana, um prédio inacabado, mas raríssimo em seu estilo com três naves e capela-mor. São famosos também seus artesãos e músicos.

O mestre Esaú dividia suas atividades entre a música e a profissão de farmacêutico, aviador de fórmulas. Regeu bandas em sua cidade, outras na sua região até Minas Gerais. Faleceu em 1985, a bordo de um ônibus entre Rio de Contas e Salvador, trazendo inclusive o depoimento que se segue, em manuscrito. A leitura desta autobiografia nos permite conhecer um pouco da formação de um músico no interior, nomes de bandas e pessoas e até episódios históricos de projeção maior, como a passagem da coluna Prestes pela Chapada Diamantina.

Enquanto compositor, suas principais obras foram os dobrados “Gilson”, “Luiz Pinto” e “Paulo e Junior”, dedicados aos seus netos, além da valsa “Lina” e do bolero “Sonhos de Primavera”. É com extrema felicidade que vejo ser publicada a história deste que foi pessoalmente um amigo, cujas obras por várias vezes executamos com a oficina de frevos e dobrados. (Fred Dantas)

Leia a autobiografia de Esaú Pinto>>