Não muito distante no tempo, começa a nossa história de amor. Nos lares de Miguel Arcanjo de Lima e Miguel Gonçalves de Aguiar, vêm ao mundo os nossos protagonistas: Antônio e Idália. Ele era o oitavo de uma prole numerosa e ela a sétima de um clã imenso, ambos nas paragens livramentenses, terra nutrida pelos canais do Rio Brumado e cantada pelo amor dos seus filhos.
Filhos da força, da virilidade e asperezas sertanejas, de chão fértil, rico e produtivo. Terra de contrastes, de sol causticante, que inocula coragem em seus filhos. Foi nessa terra que o amor de nossos homenageados superou as barreiras do tempo e, hoje, 25 de maio de 2012, comemoram suas Bodas de Diamante, 60 anos de comunhão, transparente e radiante como a rainha das pedras preciosas.
Como grandes casais bíblicos, pedra fundamental no alicerce da sociedade católica livramentense, privilegiada com o carisma do amor, essa família é um exemplo, para nós, de preserverança, paciência, humildade, renúncia e compreensão. É uma árvore de bons frutos, produzindo-os na proporção de cem por um.
Bem distante, vislumbramos a história de Abraão e Sara. Eles venceram intempéries, procelas da vida e a própria barreira do tempo. Firmes na fé, acreditaram no que parecia impossível. Multiplicaram-se e se tornaram modelo de família do seu tempo. Inspirados nesse modelo de união e compreensão, os amigos aqui homenageados disseram sim a Deus, na igrejinha do Alto do Rosário, ao pé de uma das serras que emolduram a paisagem de Livramento.
Ali, se conheceram e lá também decidiram consagrar a Deus a sua união. Naquela região inóspita, quase agreste, constituíram uma bela família, que hoje está em festa, para agradecer a Deus a dádiva da sua existência. Indo e vindo, palmilharam os áridos caminhos do nosso sertão, nas regiões de Basílio, Alto do Rosário e Livramento.
Antônio e Idália, vogais que se casam com tanta sintonia! Que dupla perfeita, que casal arrojado, incansável e acolhedor! Que exemplo de igreja viva compõe a vida de vocês! Exemplo de força, determinação e coragem, quase perfeição! Do casal de Nazaré, vocês têm a união, a coragem de dizer sim, tem a entrega mútua, a fidelidade, o diálogo, a partilha.
De Maria, o sim a Deus, o acolhimento do Filho do Deus vivo. De José, a compreensão, o amor. E, como Maria, ao subir a montanha, desveste-se da dignidade de mãe de Deus e vai ajudar a prima Isabel.
Vocês subiram ao Alto do Rosário, para servir ao amor, para iluminar, para brilhar.
Maria que vai à páscoa em Jerusalém. Vocês também cearam nas festas de Nossa Senhora, aqui em Livramento! Em tudo, vocês têm um pouco de Deus: D. Basílio, Festa do Senhor do Bonfim, quando disseram sim a Deus, como que finalizando o passado e iniciando um futuro de amor com o selo da eternidade.
Vieram os filhos - sonhos despertos com um pesadelo: a perda do primogênito. Como Maria, ao pé da cruz, com o coração sangrando, a voz do silêncio invade sua alma, acalma, tranquiliza, conforma. Então, veio a Vitória. E é esse nome que traduz a esperança. Como Adão, toma nas mãos a obra prima da criação, e balbucia: “Eis agora aqui o osso de meus ossos e a carne de minha carne”.
Alcançam, assim, a Vitória do amor! É o amor que vence, sabendo esperar as demoras de Deus, como Sara e Abraão. Mas as bênçãos não param por ai e, então, chega outro pedacinho do céu: Cristina, a quem contemplam admirados e felizes. Depois, Idália gera no coração o filho caçula: Miguel Fernando, o qual, a exemplo do apostolo Paulo, adota no amor.
Assim, nossos heróis caminham rumo à Terra Prometida. Um divide o saber, o outro, com grande habilidade, maneja a agulha. Como o estilo dos grandes mestres, cose na alfaiataria. Só Christian Dior ganharia dele. É no mundo dos contrastes e surpresas que vemos nossos amigos, nesta terra de Maria, cumprirem o chamado de Deus.
É no Hotel Aliança que mais uma coincidência surpreende nossos heróis. Aliança... Tantas alianças bíblicas... Parece mais um quebra-cabeça que, ao juntar as peças, conhece-se o que cada uma esconde. Assim, vemos o quão Deus é fiel para os que buscam com sinceridade a sua presença.
De catequistas, orientadores de casais, noivos, nossos homenageados tem um pouco de tudo. Sabem e gostam de servir. Conhecem e assumem Cristo. São discípulos que aderiram ao Rabi da Galiléia. Não olharam para trás, não pararam e nem retrocederam, apenas seguiram o Mestre.
Não O seguiram apenas ao Tabor, também amargaram com Ele a solidão no jardim de Getsêmani. Fizeram o fácil e também aquilo que não gostavam. Foram como lutadores incansáveis, pegando no arado sem olhar para trás.
Antônio forma-se em 1966. Colega fiel, aluno que vale o quanto pesa. É prudente e testemunha o amor. É sábio: aconselha, orienta, é quase pai. E assim nossos heróis ultrapassam o limite dos 60 anos de união, um belo exemplo de fé, de paz e capacidade de decisão.
Fizeram a opção exclusiva por Jesus, diante da sábia lição do Livro do Êxodo: “Não terás outro Deus/Além de mim/Porque eu sou Iahaweh teu Deus/Um Deus zeloso” (Ex. 20, 3-5).
Queridos tios! Parabéns! Deus lhes abençoe!
(*) Licenciada em Letras Vernáculas (UCSal) e pós-graduada (UFBa). Especialista em: Ensino Religioso (Universidade São Francisco), TV Escola e os desafios de hoje (Universidade Estadual de Santa Cruz).