Não é brinquedo. O nosso parlamento está se superando na arte de produzir gargalhadas e está desmoralizando os maiores humoristas deste País. Costinha, Dercy Gonçalves, Chico Anísio e outros grandes humoristas escaparam de se ver botados no chinelo porque morreram antes... E os atuais que se cuidem! Mas, o espetáculo não pode parar.
E o Brasil que é o único país que tem o que resta do Amazonas, que é o único que tem o que resta do Velho Chico, que é o único que tem o que resta do Rio de Contas, que é o único que tem o Penta, que é o único que tem Gisele Bundchen, que é o único que tem um Pelé melhor que Maradona, que é o único que tem um filho de presidente que em um único pulo foi de “O Garoto do Salário Mínimo” para “O Homem de Seis Bilhões de Dólares”, que é o único que tem o Cristo Redentor, que é o único que garante ser o berço de Deus... Agora, é o único que tem no parlamento a bancada dos presidiários!
Aí, então, meus senhores, com mais esta unicidade inovadora e de grande destaque no cenário internacional, quero ver se continuarão deixando este país fora do Conselho de Segurança da ONU! E, lá, dentro do dito, passaremos a contar até com o direito de veto, caso algum país se atrever a apresentar propostas contra o Irã, Cuba, Venezuela, Bolívia, Síria ou qualquer outra ditadura amiga!
E, vislumbrando esse futuro promissor, o engrandecimento dessa nova bancada passou a ser a preocupação prioritária dos senhores dos destinos do país. Aliás, essa preocupação já vem desde o início do caso do Mensalão. Tanto que, já naqueles tempos, não confiando muito no desfecho desse processo, e muito menos na suficiência populacional de companheiros presidiáveis, os grandes companheiros, por cautela, passaram a cogitar até em aceitar o reforço do plantel local pela via da importação internacional. Primeiro, pensaram no Ronald Biggs, participante da linha de frente do “Roubo do Século” (já pensaram esse cara lá em Brasília?!...). Fugitivo da justiça inglesa, o companheiro Biggs foi hóspede ilustre do Brasil por três décadas. Mas o famoso gangster, de repente, resolveu voltar para o seu país, segundo fontes abalizadas, desgostoso por não ter tido oportunidade de fazer aqui a carreira parlamentar para a qual se sabia apto. Aliás, de tão desgostoso, Biggs chegou a sofrer séria e prolongada crise depressiva, em decorrência da falta de reconhecimento da sua qualificação e dos seus méritos por seus pares brasileiros. Tudo isso ao ponto de ficar surtado logo após a injusta recusa do companheiro Dirceu em recebê-lo lá no Alvorada “para altas confabulações e troca de experiências de interesse da categoria”. Aí, então, em estado de choque, não lhe restou outra saída que não a deste país. E, assim, humilhado, ele dobrou o seu velho currículo, enfiou-o não sei bem onde e picou a mula de volta a Londres. E, em lá chegando, entregou-se à prisão para cumprir, resignado, o resto da sua pena. Enfim, uma perda antecipada para a nova bancada dos presidiários...
Outra perda antecipada está sendo a do companheiro italiano Cesare Battisti, outro ilustre bandido que o nosso país houve por bem de importar. Mas a importação (asilo) do importante serial-killer, no tocante às expectativas dos grandes companheiros, pouco acrescentaria, pois logo se constatou ser insuficiente sua qualificação para integração da nova bancada. É que ele – embora ostentando predicados de grande criminoso – além de não dispor de mandato parlamentar, não é marqueteiro, não é grande pecuarista, não tem bilhões nas Ilhas Cayman e não pesa contra ele qualquer acusação específica de corrupção. Além do mais, sua qualificação principal, como registram sentenças proferidas nos tribunais italianos, é a de assassino frio e reincidente. Daí ser ele carente de qualificação suficiente para compor, no nosso parlamento, a nobre bancada dos presidiários.
Então, para superar as frustrações iniciais, os grandes companheiros do governo petista estabeleceram uma diretriz norteadora a ser observada por seus diplomatas no mundo afora, visando à facilitação da importação de condenados e/ou processados, sobretudo de parlamentares para, no futuro, virem a reforçar o plantel local da novel e promissora bancada.
Nesse meio tempo, acontecia aquele imbróglio lá na Bolívia. É que, há algum tempo, os nossos diplomatas atuantes naquele rincão andino já vinham tentando dar asilo a um parlamentar que vinha sendo perseguido sob acusação de corrupção, mas que, na verdade, estava cometendo apenas o grave crime de ser da oposição. Sabedor disso, o nosso governo, solidário com aquela ditadura amiga, passou a travar burocraticamente as providências que a nossa embaixada estava adotando para o resgate do dito parlamentar. Mas, mesmo assim, os nossos diplomatas, não só por dever de ofício, mas também movidos por sentimentos humanitários, decidiram peitar os grandes companheiros do governo e, quebrando as regras da diplomacia formal, houveram por bem de conduzir, clandestinamente, o senador perseguido, até deixá-lo a salvo em solo brasileiro. Quer dizer, mais ou menos a salvo, não é?!
Concluído o surpreendente resgate, o nosso governo, evidentemente, ficou aflito e, antes mesmo que o companheiro Evo tivesse tempo para estrilar, tratou de enquadrar os nossos bravos servidores públicos na categoria de “diplomatas aloprados” e os despachou imediatamente, mediante “promoção”, para outras embaixadas de maior porte. Essa, aliás, era a única saída, digamos honrosa, para o nosso governo. Que jamais poderia demiti-los, muito menos a bem do serviço público, por saber que eles agiram corretamente, motivados notadamente por razões de ordem ética, por conseguinte em absoluto descompasso com os ideais do bolivarianismo triunfante nestas bandas.
Mas, que eles são aloprados, são, sim senhor! Até porque, além de afrontar uma ditadura amiga eles cometeram o despautério de importar para cá um parlamentar sem o mínimo de pré-requisitos para compor futuramente a nossa bancada dos presidiários. Tanto que, segundo fontes fidedignas, um grande companheiro do Ministério das Relações Exteriores, ao despachar aqueles nossos diplomatas para os seus novos postos no exterior, dirigiu-lhes uma enérgica preleção que terminou mais ou menos nos seguintes termos:
.... E o que se viu é que vocês nos deixaram no maior vexame. Não perante o cenário internacional, mas perante o companheiro Lula e o companheiro Evo, o que é mais grave!... Vocês já pensaram se o companheiro Evo tivesse entendido que nós pegamos na raça e trouxemos para cá um inimigo dele como forma de obtermos compensação por ele nos haver confiscado, também na raça, em 2006, aquelas nossas refinarias da Petrobrás? Vocês ao menos imaginaram se ele, zangado, nos fizesse a desfeita de devolver nossas refinarias? E logo nós que sempre fizemos tudo para ele não pensar sequer que nós ficamos aborrecidos! E vocês sabem inclusive que, fiel aos grandes ideais bolivarianos, o nosso presidente Lula, além de não ter feito qualquer objeção ao histórico confisco socializante promovido pelo governo boliviano, houve por bem, pouco tempo depois, de determinar ao governo petista o encaminhamento de novo investimento na produção de gás lá na Bolívia, justamente para ficar à disposição do companheiro presidente Evo, não só para agradá-lo mas também para que se tenha certeza de não desapontá-lo, caso ele entenda necessário empreender novo confisco socializante. Tudo, evidentemente, como corolário do esforço governamental para assegurar o contributo efetivo de todos os companheiros eleitores e contribuintes brasileiros para levar adiante o nosso projeto comum e maior rumo à implantação do socialismo bolivariano, primeiro na América Latina e, depois, no mundo!
E vocês, diplomatas aloprados, se cuidem! Esta é sua última oportunidade! E saibam que estamos de olho em vocês! Nós e o companheiro Obama! Não se esqueçam, portanto, que estamos monitorando vocês graças ao spybrazil.usa.comoquiser.com, o excelente programa de cooperação internacional que vem sendo modernizado e informatizado desde os bons tempos do companheiro Bush! Ochente boy, oh yeah!
(*) Jorge Soares de Oliveira (Jorge de Piatã), bacharel em Direito (UFBA: 1969), OAB-BA nº 3.401, escritório em Brumado-BA, atuando ainda em Livramento de Nossa Senhora, Rio de Contas, Vitória da Conquista e Salvador.