Entrevista – 29.09.2015

 

Divaldo Franco,
por Ana Cláudia Landi

A mais nova biografia do médium baiano Divaldo Pereira Franco, de autoria da  historiadora e jornalista paulistana Ana Cláudia Landi, impressiona, tanto pela refinada linguagem jornalística como pelo conteúdo, que conduz o leitor a um surpreendente universo de informações sociais e espirituais. O livro é da Bella Editora, de São Paulo, dirigida pela própria autora.

Muito já se escreveu sobre o festejado líder espírita, mas essa autora adotou uma postura diferenciada dos demais biógrafos, ao mostrar a trajetória do homem existente por trás do mito, formado a partir da rara cultura humanitária e espiritual do grande tribuno.

Landi é igualmente uma pessoa cativante, pela simpatia e sensibilidade que ostenta. Pelo menos foi essa a impressão que deixou, na entrevista a seguir, que concedeu a Márcia Oliveira, especialmente para O Mandacaru, em 13 deste mês, último dia da 62ª Semana Espírita de Vitória da Conquista. Leia:

 

Qual a motivação para escrever a trajetória de Divaldo Franco?

Foram várias as motivações. Foi um pouco por acaso, se é que existe o acaso. Eu procurava alguém com uma história significativa e singular para biografar. Tinha acabado de escrever um livro que fez bastante sucesso, intitulado Pulmão de Aço, uma história comovente de uma moça que mora há 44 anos no Hospital das Clínicas (SP), cresceu numa UTI e escreve com uma espátula na boca. Procurava alguém que fosse tão motivador, um personagem tão cativante quanto. E veio o nome do Divaldo na minha cabeça e comecei a pesquisar. Foi difícil, no início, formatar tudo, chegar até ele, mas, a partir do momento em que o conheci pessoalmente, as motivações foram várias, foi uma coisa ótima.

Depois de conhecer a vida do médium, o que mudou na sua visão sobre a espiritualidade?

Mudou totalmente. Tenho o antes e o depois. Eu já era de família espírita, já acreditava na vida espiritual, reencarnação. Só que com ele você aprende que é possível conciliar a teoria, doutrina escrita e a prática. Porque ele é um exemplo claro de alguém que segue fielmente, nunca traiu aquilo em que acredita.

Com sua experiência, você arriscaria a dar uma definição de Céu e Inferno?

Tudo que eu vivi nesses últimos anos, fazendo a biografia, acho que céu e inferno são coisas que nós criamos. São o reflexo das nossas ações, dos nossos atos, no dia a dia. Claro que aprendi muita coisa com Divaldo. Não dá para obter a felicidade plena em uma existência, mas é possível corrigir os defeitos do passado através do bem que você venha a praticar. Então, é tudo muito relativo. Aprendi mais do que isso com ele, com a convivência com ele, que nós criamos o nosso destino, que não existe essa coisa determinista de céu e inferno.

Que visão você tem do mundo espiritual?

É uma pergunta muito ampla, mas a minha visão é essa de que são conceitos como os da doutrina espírita, que eu sigo e acredito muito. Talvez tenha mudado apenas o conhecimento espírita para vida, de buscar um espiritismo que seja cristão, mais baseado nos postulados de Jesus, uma coisa mais espontânea e pura. Como tudo que vi nos trabalhos do Divaldo.

Que aspectos do homem e da natureza podem ser considerados provas irrefutáveis do existir de Deus?

Acho que há provas da existência de Deus e do amor de Deus em todas as obras da Sua criação. O que mais me cativa, me emociona é perceber que as leis são imutáveis. Para mim, é bastante racional o que a doutrina espírita explica, de que a existência do homem e a progressão dos seres, já são provas irrefutáveis.

Que alegrias e eventuais dificuldades você vivenciou durante e após a elaboração da biografia de Divaldo Franco?

Houve muito mais felicidades. Na verdade, é um projeto que talvez eu nunca mais consiga fazer outro tão importante. A principal dificuldade foi o medo de não corresponder às expectativas, porque é um trabalho que envolve uma pessoa que eu não queria, de nenhuma forma, decepcionar.

Quem foi e quem é Ana Cláudia Landi?

Sou uma pessoa bem simples, jornalista, trabalho há mais de 25 anos com jornalismo. Comecei na Folha de São Paulo (SP), passei por outros veículos, tenho um filho de 29 anos, trabalho muito. Há uns três anos, tenho uma editora, que publica obras, espíritas ou não, que tenham sempre esse cunho social, histórias de vida, pessoas com mensagens para passar. A gente tem conseguido alguns sucessos nessa linha, mostrando que as pessoas estão super abertas a mensagens positivas. Eu sou uma pessoa muito reservada, tímida, quieta, tenho vergonha de dar entrevista. Quem fui, em outras vidas, tenho conhecimento, mas não posso falar. (risos). Sei que não fui nada importante.

Será que você teve alguma ligação com Divaldo?

Todo mundo que, de alguma maneira, se aproxima e tem a honra de estar ao lado dele, somos todos da família de Joana de Angelis.

Para você, a vida é bela? Por quê?

Para mim, a vida é ótima. Às vezes, é muito difícil, mas não nunca deixa de ser bela. Difícil, porque, como nós viemos com esses propósitos de se melhorar, de mudar alguns conceitos, de corrigir algumas falhas, ou seja, a vaidade ou, em alguns casos, a melancolia, ou seja lá o que for, a gente vai sofrer, porque vai passar por algumas situações em que tenha de colocar essas provas em jogo. É muito complicado, principalmente quando você adota um planejamento, um projeto, alguma coisa assim. Mas o resultado é sempre maravilhoso.

Que impressões ficaram em você da mentora do Divaldo, Joana de Angelis?

Divaldo fala muito sobre ela. Sou absolutamente apaixonada pela Joana, tenho um respeito imenso por ela, é a benfeitora de todos nós. Fui percebendo, durante a obra, o grau de evolução e grandeza espiritual desse ser. Talvez, por sua nobreza, ela não se expõe e é sempre muito reservada. Mas, com a convivência, quando você vai estudando, lendo as mensagens dela, vê que é um espírito de altíssimo escol. Já tem um papel muito grande  na evangelização do Globo, é um espírito elevadíssimo, amoroso, rigoroso, bravo, às vezes. Ela ultrapassa séculos.

Como você definiria Divaldo Franco?

Ele é totalmente focado no trabalho, um homem que cumpre os horários a cada segundo para dar conta da jornada exaustiva. Solidão demais, muitas e muitas horas de viagens, hotéis. Ele é fantástico.

Você conhece a Mansão do Caminho?

Sim, eu frequento, nesses dois anos que eu me aproximei, tenho ido praticamente uma vez por mês. Acabei ficando próxima a eles e à obra. São meus amigos e procuro colaborar, na medida do possível.

Você já é uma cidadã baiana? Está ficando mais aqui na Bahia?

(risos) Sim, já sou, agora, sou uma falsa paulistana. Estou com um projeto do próximo livro, que não é espírita, é sobre um rapaz que tem uma deficiência física muito grande, mas é um batalhador, um sobrevivente e a história dele é linda; reside no interior baiano, na cidade de Monte Santo, bem no sertão baiano. Então, venho e faço as duas coisas ao mesmo tempo, entrevista com ele, cuidar do livro dele e aproveito para me recuperar, aprender e assistir palestras de Divaldo.

Como você vê essa transição para o Terceiro Milênio?

Acredito que é um momento de transformação, muito difícil, que continuará por um tempo. Pelo que escuto do Divaldo, em palestras e reservadamente, é um tempo de muita transformação, em que os valores éticos e morais estão sendo testados. Todos nós que decidirmos continuar no caminho do bem ou optar por um caminho melhor, seremos testados ou por influencias negativas, problemas ou pela sociedade, pela crise, coisas que ficam fora do nosso controle, para que a gente possa reavaliar esses conceitos e buscar ser uma pessoa melhor. A crise está sendo difícil, continuará sendo difícil por um longo tempo, mas terá  um resultado benéfico, ao final.

Como você vê a política brasileira, nesse momento de tanta crise ética e moral?

Acho que toda essa crise faz parte desse processo de transformação para um mundo melhor. Acho que em todas as sociedades, não só no Brasil, a nossa política, como as crises mundiais, as guerras e violências éticas, acredito que veio para expurgar mesmo, para que tudo que foi comum por um bom tempo, como a desonestidade e a violência, fiquem para trás. É hora da gente refletir muito sobre isso, como no caso da política brasileira, o que a gente tem que pensar na hora de escolher os governantes. Não adianta ficar falando mal e votar no primeiro que oferece alguma coisinha, algum benefício. Tem que ser ético, tem que levar essa ética da família para a política e a sociedade. Acho que é um momento difícil, mas que expõe a sociedade. Não são os políticos que são ruins, é a sociedade que escolhe os políticos, então é hora de uma mudança geral.

Como está a divulgação do seu livro sobre Divaldo?

O livro teve uma boa acolhida, que já imaginava, pela figura dele. Mas o mais prazeroso é saber que as pessoas que não eram do movimento espírita começaram a prestar atenção em  quem é esse médium, esse professor, essa pessoa maravilhosa que criou uma obra ímpar, na Bahia. E o livro teve esse propósito, de adotar uma linguagem jornalística que não fosse apenas para o movimento espírita, mas sim para aqueles que se interessassem por esse homem que tirou mais de 160 mil pessoas da pobreza, que criou uma obra fantástica na área da saúde e da educação, que adotou mais de 600 filhos. Muita gente, em São Paulo, quando eu comecei a escrever o livro, nunca tinha ouvido falar sobre Divaldo. Na Bahia, ele é muito conhecido, no movimento espírita ele é muito conhecido, mas jornalistas ou público em geral, não sabiam. Quando o livro  e Divaldo saíram no Fantástico, por conta do lançamento da obra, ganhou uma proporção muito grande, atingiu o público que não o conhecia. Isso é o que me deixa mais feliz.

Como você conheceu Divaldo Franco?

O conheci através de palestras. Por eu ser de família espírita, meu pai era espírita desde que eu nasci, então eu já o conhecia de nome, mas não tinha nenhuma relação especial, nenhum contato. Tinha escrito outras biografias e terminara a de uma menina que mora no Hospital das Clínicas. Queria escrever outro livro que tocasse as pessoas como o dela. Veio essa intuição do nome do Divaldo. Comecei a pesquisar, vi que havia algumas datas redondas, como o aniversário da Mansão do Caminho, o aniversário dele e tudo mais. Comecei a tentar, mas ele não queria, achava que seria um trabalho sobre ele, laudatório. Para ele, deve ser conhecida a obra e não o homem, mas aos poucos o convenci.

Foram dois anos de entrevistas com ele. Então, tentei detalhar algumas histórias já conhecidas e fatos que não eram. Algumas já foram contadas em suas palestras, mas  a ideia era aprofundar um pouquinho mais, dá os desfechos de algumas e mostrar esse homem por trás do mito. Porque todo mundo vê o palestrante que entra e sai, mas as pessoas se esquecem que ele está trabalhando, servindo. Ele tem que se concentrar, atender ao público e, muitas vezes, está mediunizado, não pode parar ou posar para fotografia.

Você tem uma mediunidade desenvolvida?

Tenho sim, estudo, sempre estudei muito, desde jovem frequentei centros espíritas, mas a minha mediunidade mesmo, tem ficado aflorada mais recentemente, com mais frequência em reuniões mediúnicas, ainda sou uma médium em treinamento, ainda sou uma porcaria (risos). Sou ainda iniciante. Tenho o maior respeito pela mediunidade, nunca fico deslumbrada, muito menos achando que é um dom. É uma tarefa, acho que quem começa a desenvolver a mediunidade tem que colocar na cabeça que e para servir, que não é para aparecer.

Acredito, Ana, que sua mediunidade já começou, com essa obra...

Muito obrigada e fico muito feliz que os comentários têm sido positivos sobre a minha obra, Como eu tinha falado para você antes, que a ideia era que ela atingisse também um público não espírita, para que pudesse desmistificar um pouco o que é o espiritismo. Muita gente ainda tem preconceito, mistura muito com outras religiões ou acha que tem a ver com magia. E sabemos que não tem nada a ver. É ciência, religião e filosofia.