Rocinha – 27.03.2016

Ainda falta o resgate social
dessa população tão sofrida!

 

Raimundo Marinho

Jornalista

Os quilombos eram acampamentos improvisados por escravos que fugiam das fazendas. Neles, encontravam uma nova vida e se organizavam para se defender dos antigos “donos”, que os perseguiam ferozmente.

Abolida a escravidão e, ao longo do tempo, esses agrupamentos, espalhados pelo Brasil inteiro, consolidaram-se como núcleos humanos de cultura própria, ganhando importância no cenário brasileiro.

Com a Constituição de 1988, os remanescentes desses quilombos receberam proteção legal, incluindo o título das terras que ocupavam. E passaram a ter ajuda financeira governamental, para promover e preservar sua cultura.

Isso acabou despertando o interesse de pessoas inescrupulosas, interessadas em desviar recursos dessas comunidades. Assim, saíram criando “comunidades quilombolas” a torto e a direito.

Só em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, consta haver 17 desses núcleos, deixando a impressão de que todos os escravos da época fugiram. Mas pouco se sabe sobre o resgate social de seus moradores.

O povoado da Rocinha, de população muito humilde, passou a ser um desses remanescentes de quilombo, a partir de setembro de 2008, conforme certificado pela Fundação Cultural Palmares, sediada em Brasília.

O local fica perto de Itaguaçu, a 18 quilômetros da sede do município, e consta que abriga mais de 500 moradores. É considerada uma das mais organizadas e populosas comunidades ditas quilombolas, do município.

Seus primeiros moradores, segundo registro da Prefeitura Municipal, teriam sido as famílias de Saturnino Pereira e Vicente Batista de Souza. O nome “Rocinha” teria origem nas roças de arroz, que eram abundantes na época.

A comunidade vive, atualmente, de culturas de subsistência e do fabrico artesanal de produtos como rapadura, doces, aguardente, além da fabricação de alimentos típicos, a partir da produção rural.

Chegou a ter expressivo artesanato, de cestas, vassouras, chapéus, esteiras, renda, crochê, bordado, fio de algodão, incrementado com apoio da Associação local, criada e organizada, também com essa finalidade.

Sua sede foi inaugurada em 2011 com apoio e incentivo da família de Seu Antônio Alves Meira, antigo farmacêutico e benemérito da cidade de Livramento, falecido em 2014. Em homenagem à sua falecida esposa, o local recebeu o nome de Centro Cultural Nair de Castro Meira.

Surpreende que passasse a emitir declarações falsas, para acesso a benefícios legais que deveriam ser restritos a moradores do povoado. É de se perguntar se algum quilombola genuíno estuda em alguma universidade.

Soubemos de algo ainda mais inacreditável, que seria o aperfeiçoamento da fraude, através de uma espécie de “compra de endereços”, para justificar a emissão de atestados de residência no local.

Ou seja, famílias não pertencentes à comunidade criariam vínculo imobiliário no povoado, mediante aluguel ou compra de imóvel, para comprovar o endereço com as contas de água e ou de luz em seus nomes.