Deserto à vista – 11.05.2017

Sem abelhas, a natureza é morta!

 

Raimundo Marinho
Jornalista

(continuação)

A polinização é que garante a produção de frutos e de sementes, que nos alimentam e asseguram a perpetuação das espécies vegetais. Ela, a polinização, é feita pelas abelhas, por uma das mais sublimes leis da natureza, de autoria de Deus.

Os órgãos reprodutores da planta, em cada flor, chamam-se antera (masculino) e estigma (feminino). Nos mamíferos, os órgãos são individualizados em corpos distintos e a reprodução começa com a relação sexual entre macho e a fêmea.

Nessa união, o fluido (sêmen) gerado pelo macho junta-se à célula (óvulo) feminina, no útero da fêmea, onde ocorre a fecundação. Ali, o novo ser é reproduzido e permanece até poder sair para o mundão de Deus.

Nas plantas, o fenômeno de formação de um novo ser vegetal tem o mesmo princípio sexual. Só que de modos diferentes. Primeiro surge a flor, depois o fruto, dentro do qual estará a semente, donde nova planta germinará.

Por ordem da “Lei de Deus” ou “Lei da Natureza”, quem faz a “união sexual” entre as plantas são as abelhas, espécies de “cupidos”. É, mais uma vez, Deus fazendo interagir dois seres vivos de natureza diferentes, animal e vegetal.

Dentro da flor, há as substâncias chamadas pólen - minúsculos grãos, com elementos masculinos e femininos, que possibilitam a reprodução vegetal; e néctar – este à base de açucares. Comparam-se aos óvulo e sêmen humanos.

O pólen e o néctar são os alimentos das abelhas, que os desejam tal qual os humanos desejam o orgasmo. Elas saem lambuzadas de uma flor e entram em outras, levando aquelas substâncias, dando-se o fenômeno da polinização.

Portanto, a polinização consiste no transporte de grãos de pólen da antera de uma flor para o estigma da mesma flor ou de outra, feito principalmente pelas abelhas. Mas há outros agentes condutores, como o vento, as aves e os morcegos.

Sem esses insetos, que estão sendo dizimados pelos agrotóxicos, não haverá polinização e nem reprodução vegetal, e a flora desaparecerá, como uma das heranças mais nefastas do agronegócio. Triste realidade entre nós!

Além disso, os produtores estão agredindo a Lei Natural, trocando a engenhosidade das abelhas e outros insetos pelos dedos humanos, para assim aumentarem a produção, com frutos mais polpudos, e ganharem mais dinheiro.

Mas só fazem isso com produtos do topo da cadeia comercial, como o maracujazeiro, em Livramento, cujo principal polinizador é a abelha mamangava, vítimas dos defensivos agrícolas, junto com outras espécies de insetos polinizadores.

Então, as outras espécies de plantas, incluindo árvores frutíferas, tendem a desaparecer. Dessa forma, corremos o risco da aceleração do processo de desertificação já em curso, agravado pela depredação dos nossos recursos hídricos.

O engenheiro agrônomo Weber Aguiar, da ADAB, disse não haver dados oficiais sobre a questão específica da polinização do maracujá, em Livramento. Mas admite que estão sendo “gerados sérios danos ambientais”, pelos agrotóxicos.

Mesmo cauteloso nas afirmações, disse que propôs a alguns colegas pesquisadores fazer uma avaliação da chamada relação entre custo e benefício, mensurando os efeitos positivos e negativos do processo, mas ninguém topou.