Artigo – 14.01.2017

As chacinas nos presídios

 

Por Zeferino Neto

zifaneto@gmail.com

(continuação)

Outro que resolveu vociferar sobre o tema foi o deputado federal Major Olímpio, que mais parece um integrante do fã clube do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o “Coronel Ustra”, que foi homenageado por Jair Bolsonaro, na votação do processo de impeachment, pelos anos que atuou como exímio torturador.

O deputado Major Olímpio fez apologia ao crime, quando publicou, também no Facebook, o “Placar dos presídios: Manaus 56 x 30 Roraima. Vamos lá, Bangu! Vocês podem fazer melhor”.

Como escrevi acima, em meio à crise em que vivemos e, consequentemente, a carência por proteção que brota dos nossos corações, tudo isso faz com que apoiemos esses monstros e suas respectivas teorias de combate à violência. Mas precisamos compreender que nenhuma nação conseguiu acabar com a violência usando a lei da decapitação.

Veja o caso da Revolução Francesa e a guilhotina, usada como terrível máquina de execução sumária, que lançou o país no mais profundo caos, não poupando nem mesmo Robespierre, que a utilizava quase que diariamente, para executar desafetos. 

Outro exemplo são os EUA, que dispõe de todas as punições possíveis e imagináveis (cadeira elétrica, injeção letal, prisão perpétua). No entanto, vira e mexe, um maluco mete um avião em uma torre, no pentágono, entra em uma escola metralhando, provando que penas mais severas não são páreos para os nossos instintos.

É preciso também esclarecer que, para tratar de segurança pública, é necessário muito mais que saber manusear um “três oitão” ou sair por aí gritando “bandido bom é bandido morto”. Para tratar de segurança pública é preciso entender, primeiramente, a formação social de uma nação, compreender o ser humano de maneira holística e, acima de tudo, dispor-se a combater os verdadeiros bandidos da nação, como os dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, pseudos representantes, que chegam lá, em alguns casos, patrocinados por criminosas.

Mas aí é outra história, sendo melhor viver na nossa hipocrisia e continuar torcendo para que apenas os bandidos pobres, negros, bestializados e favelados continuem sendo exterminados. Vale ressaltar que essa prática das chacinas já é colocada em prática, de maneira não oficial, há muito tempo, em nosso país, provando, igualmente, que o método não é eficaz.

O pai da psicanalise, Sigmund Freud, já nos advertia, dizendo que a tarefa da cultura/educação era justamente frear nossos instintos bestiais, evitar o sofrimento e oferecer segurança ao homem. Freud nos mostra a eficácia da cultura como controle das satisfações, colocando o prazer (de roubar, matar, estuprar) em segundo plano, sublimado.

Claro, que essa técnica tem lá seus efeitos colaterais, como, por exemplo, o controle sobre a libido, fazendo a sociedade acreditar que o ato de transar de quatro “nos assemelha aos animais”. Que masturbação não é de Deus, essas coisas de inquisição. No entanto, cultura e educação ainda são o melhor remédio, a mais eficaz e libertadora das intervenções sociais.     

(Zeferino de Paula Lima Neto (Zifa) é psicólogo e diz que não chega a orgasmos em ver alguém sendo degolado)