Página Política | Raimundo Marinho

 

31.12.2008

Prefeitos eleitos tomam posse

Cada um dos 5.435 municípios brasileiros empossará, amanhã, 1º de janeiro de 2009, o prefeito eleito, pela população, no último dia 5 de outubro. Em muitos deles, houve reeleição, a exemplo de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, com Carlos Roberto Souto Batista. Sua investidura no cargo, para mais quatro anos de mandato, está prevista para as 10h, na Câmara de Vereadores, ato que será seguido da transmissão, no Ginásio de Esportes, localizado no bairro do Taquari. Na Câmara, haverá também a posse dos vereadores eleitos ou reeleitos e a eleição da nova Mesa Diretora da Casa.

Enquanto isso, a oposição, que não conseguiu impugnar o registro da candidatura do prefeito à reeleição nem a diplomação, agora ameaça caçar o mandato do alcaide. O fundamento é de que, além de ter as contas de 2006 e 2007 rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios, por irregularidades, incluído ausência de licitações ou fraudes em processos licitatórios, como alegado pelo TCM, o prefeito responde a pelo menos quatro processos sob a acusação de captação ilícita de sufrágio (compra de votos).

Mas, até agora, Carlos Batista, o “Carlão”, tem saído incólume de tudo, para o que vem contando com a lentidão da Justiça Eleitoral, que não julga os processos, e com a conivência da Câmara de Vereadores, que aprovou as contas rejeitadas, desbancando os pareceres prévios do TCM. Alguns edis, inclusive, ironizaram a decisão do Tribunal, qualificando o órgão de “faz de conta” e denominando de “picuinhas” as graves desobediências à lei, que o TCM detectou na prestação de contas da Prefeitura.

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25.12.2008

“Livramento merece mais”

Sob o título acima, publicamos comentário no jornal “Folha da Chapada”, em que dizíamos que “O rol de realizações contido no ‘Programa de Governo’ da chapa vitoriosa nas últimas eleições em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, se não for reelaborado, funcionará como um freio na vocação desenvolvimentista do município. Trata-se, na verdade, de uma lista de providências administrativas, que em nada compromete o gestor. Se, como dizem, Livramento parou nos últimos 20 anos, é imperioso que não continue parado nas próximas duas décadas, sob pena da sua população ter de pagar um preço muito alto por isso.”

Escrevemos também que “Dos 26 itens listados, pelo menos 10 dependem diretamente de participação das esferas governamentais estadual e federal, ou seja, se aqueles governos se recusarem a ajudar, nada será feito e a promessa não será cumprida. Há ainda que ser considerado o amadorismo da lista, que nem mesmo chega a ser um plano. Para receber o nome de plano teria de conter uma exposição com a justificação, os meios para execução das propostas e suas fontes de recursos”.
O comentário dizia ainda que “Foram omitidas questões fundamentais, como o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, o abastecimento de água da sede, uma nova estação de tratamento de esgoto, a adução de água potável para os aglomerados urbanos do interior, a recuperação e preservação dos monumentos históricos, a preservação ambiental, a atração de um pólo educacional, o desvio da rodovia que corta a cidade, a fiscalização e controle do uso do solo urbano, o cumprimento do Código de Postura, o equacionamento da gestão da água para irrigação e esforços para revisão e conclusão do ‘Perímetro Irrigado do DNOCS’, ente outros”.

E acrescentamos: “Mas, de tudo, doravante, pelos menos três questões exigem atenção especial do gestor: a expansão urbana, que será, pelos menos de três por um do que já cresceu até agora; a reestruturação do setor da educação, incluindo cursos pré-vestibulares e faculdades, pois será muito mais produtivo e bem mais barato para as famílias e o poder público que os jovens concluam seus estudos no próprio município, além de gerar empregos; e igual reestruturação da saúde, com a construção, não de uma maternidade apenas, mas de um novo hospital, para acabar com a vergonhosa e vexatória situação de se levar pacientes, em estado grave, para Vitória da conquista, expando-os a um alto risco de óbito”.

E, encerrando: “Não vamos entrar no mérito de ser ou não competente a chapa eleita para cuidar de tais questões, mas sim considerar que é obrigação dos eleitos cumprirem essa agenda. A população, que não deseja viver em um caos, certamente vai cobrar isso. Nós vamos cobrar isso! Aliás, esses dois meses antes de 2009 (o comentário foi publicado em 31 de outubro), são suficientes para se elaborar um verdadeiro plano de governo, sem os achaques eleitoreiros, se de fato houver disposição para o trabalho”.

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19.12.2008

Se o triângulo for isóscele

Pode-se dizer que Jaques Wagner é um homem politicamente abençoado. Chegou fácil onde parecia impossível, a governador da Bahia. E, mesmo entre os baianos, conserva um certo jeito carioca de ser. Gosto dele. Nos raros contato com ele, eu jornalista, ele ainda um político paroquiano, mas já reconhecida liderança, foi cordial e muito atencioso, do que, por óbvio, não há de se lembrar.

Tenho acompanhado, com alguma atenção, o seu governo. Tem o mérito de governar com elegância. Passa firmeza, seriedade e filosofa, o que é bom para a aridez governamental. Preocupo-me com ele só no que toca a Livramento de Nossa Senhora. Mas não podemos deixar de captar o que ocorre na capital e no Estado como um todo.

Nas eleições municipais em Salvador, o governador viveu um triângulo de ambíguas angularidades, demonstrando predileção por três dos principais candidatos soteropolitanos: Imbassay, Pinheiro e João Henrique. Descartou apenas ACM Neto. Quando não teve mais jeito, ai sim, subiu no palanque de Pinheiro, já no segundo turno.

O que teria se passado pela cabeça do governador? Deu a impressão de que qualquer um que vencesse, menos o Neto, claro, seria bom para ele. Deixou-nos, então, antes do pleito, a árdua tarefa de projetar os cenários para a possibilidade de vitória de um ou outro dos seus simpatizados. Isso, obviamente, irritou a muitos. Entre os irritados estava o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que suava para emplacar a candidatura de João Henrique, de cujo empenho saiu vitorioso.

Mas a suposta irritação deixou ranhuras no affair político entre ministro e governador. Como todo mundo sabe, Geddel Lima está em um projeto politicamente ousado, mas plenamente viável, se considerado sua estatura político-administrativa, que é ser, no mínimo, governador da Bahia, a partir de 2011. Daí seu empenho em ter o maior número de prefeitos no Estado, entre eles e principalmente, o de Salvador.

Na empreitada, queria por que queria a parceria de Jaques Wagner, cujos sonhos andam na mesma direção e que, por via de conseqüência, negou apoio explícito, embora de forma titubeante, como a não querer abrir fissuras. Nesse corrida, que já não tem nada mais de silenciosa, o ministro está, visivelmente, com alguns corpos à frente. Sua presença e visibilidade hoje no Estado, especialmente no interior, sobrepõe-se à do próprio governador.

De novo, a pergunta: o que se passa pela cabeça do governador? Os analistas continuam contidos, mas os futuristas, como nós, arriscam: reeleição, presidência ou vice-presidência da República. Novamente, tudo que Geddel também quer, com a diferença que só pode querer “eleição”, no lugar de “reeleição”. São bons nomes para a Bahia? Sim, são. Possuem a experiência e a visibilidade mínimas necessárias? Sim, possuem. E qual é a dificuldade? É exatamente quererem as mesmas coisas. Que conclusão tirar? Simples: onde um estiver o outro não poderá estar, mas se futurismo tiver lógica, os dois, de um jeito ou de outro, estarão, cada um, em uma daquelas ambições.

E enquanto essa lógica, ou suposta lógica, prevalecer, pouco mudará no “quartel de Abrantes”, com ministro e governador exercendo, com maestria, seus estilos. Assim como o “artigo” do ministro em A Tarde, o rompimento do governador com João Henrique serão tão somente ceninhas de um romance político que muito promete.

Quem não quiser ficar perdido nessa excitante história de affair político, se ligue nos conceitos de triângulo: isóscele, escaleno e eqüilátero. O enredo vai sempre oscilar entre eles. Por ora, para nós mortais comuns, a câmara parece voltada para o triângulo obtusângulo. Mas, se o “triângulo mineiro” não atrapalhar, a tendência é tudo acabar no triângulo escaleno.

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19.12.2008

“Vassoura” indicia o primeiro

A Polícia Federal, está nos jornais de hoje, divulgou o primeiro indiciado pela operação “Vassoura-de-Bruxa”, o prefeito de Ubatã, Adailton Magalhães (PR), também conhecido pelo apelido de “Dai da Caixa”. Ele foi o primeiro alcaide a depor, sob a acusação de desvio de recursos públicos federais para particulares, através de processos licitatórios fraudulentos. O indiciamento foi baseado em informações obtidas pela PF a partir de documentos e equipamentos de informáticas apreendidos na Prefeitura de Ubatã e de empresas que contratavam com aquele município, inclusive de Livramento de Nossa Senhora.

O nome da operação da PF – “Vassoura-de-Bruxa” – que investiga denúncias de corrupção em 30 municípios da Bahia, foi tomado emprestado de uma doença, provocada por um tipo de fungo, a qual acabou por destruir os cacauais do Estado, que, de primeiro produtor mundial passou a importador. A correlação com a corrupção nas prefeituras baianas faz sentido, pois o roubo desenfreado praticado por prefeitos, servidores e empresas, a maioria criadas com essa finalidade, vem causando resultado igualmente devastador, nas comunidades baianas.

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19.12.2008

Escolas sem preparo para eleição

Longe de representar uma evolução democrática e muito mais longe ainda de significar possibilidade de melhoria da Educação na Bahia, realizou-se na última quarta-feira, 17 de dezembro, no Estado, sob fortes críticas, a eleição, implantada via decreto, para escolha de diretor e vice-diretor das escolas públicas estaduais.

Das 1.535 unidades de ensino do Estado, 536 não inscreveram candidatos ao curso de gestão escolar, pré-requisito para a candidatura, promovido pela Secretaria Estadual da Educação, ou os inscritos não foram considerados aptos (era exigida a nota mínima de 7,00) e, portanto, não tiveram candidatos e nem eleição, como foi o caso do tradicional Colégio João Vilas Boas, de Livramento de Nossa Senhora, demonstrando o quanto baixou o nível de qualificação do seu quadro.

De um modo geral, a situação foi desalentadora na maioria dos municípios, onde os enredamentos políticos contaminaram o processo. Somente para se ter uma idéia, cerca de 75% das escolas tiveram candidatos únicos, sem falar nas que são dirigidas por pessoas que se quer tem formação superior. Soa como um deboche do Estado, através do secretário da Educação, implantar um sistema eleitoral desse porte, que deveria ser a maximização da democracia, ignorando que na maioria absoluta das unidades o quadro de professores ensinam sem a formação acadêmica legalmente exigida.

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13.12.2008

Nós dependemos de Justiça

A oposição política de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, está se mobilizando para impedir a posse do prefeito reeleito, Carlos Roberto Souto Batista, que é acusado e responde a processos por captação ilícita de sufrágio (compra de votos), no Fórum local, juntamente com os vereadores João Louzada, Marilho Matias e Wagner Assis, referentes às eleições do último mês de outubro.

Mesmo com os processos pendentes, a Justiça Eleitoral diplomou esses eleitos, causando surpresa entre os que entendiam que a mesma Justiça encarregada de julgar as denúncias não deveria diplomar os acusados, antes de uma decisão sobre se são ou não culpados. A conseqüência disso é que, na próxima segunda-feira, 15 de dezembro, segundo fomos informados, o advogado da oposição ingressará com pedido de impugnação dos diplomas, nos casos acima, junto ao Tribunal Regional Eleitoral.

A Justiça já poderia ter decidido, contra ou a favor dos acusados, para que a tranqüilidade política se estabeleça no município. Os próprios eleitos-acusados sofrem a angústia da incerteza, a oposição e a população de modo geral padecem a sensação de impunidade e de inocuidade judicial, ante a morosidade observada.

Bom exemplo vem do juiz eleitoral de Piripá, João Batista Bomfim Dantas, que, segundo noticiou o jornal “A Tarde” (13.12.2008), anulou a eleição local, em ação movida contra o prefeito eleito, acusado do crime eleitoral por captação ilícita de votos, através do transporte ilegal de eleitores, no dia das eleições, em 5 de outubro de 2008. Não se pode negar o importante papel pacificador da Justiça em situações que tais.

O quadro político-administrativo de Livramento precisa ser estabilizado, com providências ágeis que eliminem os conflitos. Em três contas apreciadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios, duas foram rejeitadas e a de 2008 tende a ter o mesmo destino, pelo quanto não se diferencia das anteriores, segundo se tem denunciado. Isso não é bom e passa para os cidadãos uma imagem de falta de cumprimento das leis que regem a administração pública e a vida em sociedade.

Comprar votos, trocando-os pelo que quer que seja – transporte, cimento, blocos, contas de luz e água, remédios, puxadinhos etc -, assim como desviar dinheiro público, contratar sem concurso público, nomear gente desqualificada para funções públicas importantes, comprar sem licitação, tudo isso começa a se banalizar pelo Brasil afora.

Ainda que pareça ilusório querer isolar Livramento desse contexto malévolo, é necessário que se tente. Nosso município ainda é constituído por uma grande família. Sem essa, portanto, de brigas, de desavenças por causa de política. Sem essa de um querer passar a perna no outro. Sem essa de transformar o bem público em particular, fere o princípio fundamental da República.

Para o município crescer, fazem-se necessários a união, a boa política, a boa justiça, a boa administração – enfim, o bom caráter. Nossas crianças, nossos jovens necessitam de bons exemplos. Sem isso não haverá futuro, pois os benefícios fáceis de hoje, a corrupção desenfreada de hoje, são pedras colocadas na construção do caos inevitável de amanhã!

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10.12.2008
Justiça diploma eleitos

Fotos: Mauri Castro

O ato solene de diplomação, no fórum de Livramento, foi presidido pela juíza Ana Maria Guimarães

A juíza da 101ª Zona Eleitoral, Ana Maria dos Santos Guimarães, diplomou ontem, 10 de dezembro, os prefeitos e vereadores eleitos em 5 de outubro último, nos municípios de Livramento de Nossa Senhora, Dom Basílio, Rio de Contas e Jussiape, habilitando-os, desse modo, a serem empossados no próximo dia 1º de janeiro de 2009. Por Livramento, foram diplomados Carlos Roberto Souto Batista, prefeito reeleito; Paulo Azevedo, vice-prefeito; e os vereadores Lafaiete Nunes Dourado, Marilho Machado Matias (reeleito), Aparecido Lima da Silva, João Araújo Louzada (reeleito), Paulo Roberto Lessa Pereira (reeleito), José Araújo Santos, Ilídio de Castro (reeleito), Almir Cândido da Silva e João de Amorim e Silva. Os diplomados nos demais municípios foram:
Dom Basílio – Prefeito: Luciano Pereira Silva. Vereadores: José Caíres Araújo, Francisco Isaias dos Santos, Gerson Antônio dos Santos, Eder Jakes Souza Aguiar, Zilmar Coelho Chaves, Norberto Flores de Caires, Orlando Barbosa Caires Silva, Valdete Lima Caíres e Ronaldo Sérgio da Silva.
Rio de Contas – Prefeito: Marcio de Oliveira Farias. Vereadores: José Carlos Pereira Bonfim, Maria Magdalena Mafra Dantas, Luciano Freitas Pierote, Antônio Luiz Pinto Moreira, Hudson Luz Pita, Otaviano Nunes da Silva, Vilson Amorim Oliveira, Johny Abreu da Silva e Sebastião de Souza Pires.

Jussiape – Prefeito: Vagner Neves Freitas. Vereadores: Jadiel Muniz Mendes, Carlos Roberto Paiva Luz, Vildomar Silva Luz, Rodrigo da Silva Leite, Adailton Silva Luz Sobrinho, Elisio Carvalho Freitas, Moacir Carvalho Leite, Juscelino Barbosa de Carvalho eGilberto dos Santos Freitas.

 


Carlos Batista e esposa, D. Suzete Spinola .................. Luciano Pereira (dir.)  e seu vice, de D. Basílio

Marcio Farias, de Rio de Contas.................................Wagner Neves Freitas, de Jussiape

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06.12.2008

O mudar é árduo(*)

Comunidades ditas evoluídas também enfrentam dificuldades no processo de conscientização para o desenvolvimento. Ao descrever suas atividades como líder e organizador comunitário, no livro “Dreams from my father”, Barack Obama, o agora presidente-eleito dos Estados Unidos, conta o quanto lhe foi penoso o trabalho de “acordar” as pessoas, principalmente os negros, em Chicago (EUA), para lutar pelos seus próprios direitos e necessidades!

Enquanto “viajava” pela deliciosa narrativa do autor, em muitos aspectos, eu ia tendo a impressão de que as descrições faziam referência à realidade de Livramento de Nossa Senhora. Não foi difícil captar que a natureza física das questões era muito diferente, mas a visão e os anseios íntimos das pessoas e das famílias são idênticos aos nossos. Assim como semelhantes eram os comportamentos e o modus faciendi, tanto de opressores quanto de oprimidos e, do mesmo jeito, os dos corruptos e aproveitadores.

Talvez seja por isso que a campanha e respectiva eleição de Obama tenham fascinado e despertando tanto interesse e tanta emoção around the world (em redor do mundo). Lá, como aqui, o povo é como certo animal que, colocado em uma caldeira já fervendo, é capaz de saltar fora e se salvar. Mas, posto dentro com a água ainda fria, acaba suportando o aquecimento gradativo, até se deixar cozinhar completamente, sem qualquer reação.

Outra maneira melhor não há, a nosso ver, de explicar como tantas mazelas que nos afetam são vistas com tanto conformismo e naturalidade. Alguns exemplos: falta de um hospital e uma maternidade decentes; desorganização no trânsito e no tráfego; água contaminada pelos dejetos que escoam para o Rio Brumado; falta de água para beber, no sertão; devastação do bioma da caatinga, pelo fogo e pela extração ilegal de lenha; baixo nível do ensino público; uso abusivo de agrotóxicos; exploração de trabalhadores; malversação do dinheiro público; falta de estrutura e conseqüente morosidade da Justiça; e tantos outros.

O mudar é árduo e difícil, principalmente quando não estamos à altura de perceber e compreender seus benefícios! Mas, quiçá, não seja tão difícil entender que mudar de forma planejada é bem melhor do que fazê-lo de modo contingencial. Busquemos, então, já, sem paixão, o apoio das pessoas competentes, dispostas e de boa vontade, para cuidar disso, para que não tenhamos o ardor e o amargor de não ter sabido lutar por nossos direitos. Ou, pior ainda, a fatalidade de não perceber o quanto a água já ficou quente!

(*) Já publicado também no jornal  “Folha da Chapada”, de Livramento de Nossa Senhora.

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23.11.2008

Geddel - numerus clausus

A política baiana foi sacudida, na última semana, por um artigo do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, veiculado no jornal A Tarde, em que colocou à disposição do governador Jaques Wagner todos os cargos ocupados por pessoas indicadas por seu partido, o PMDB. Ao mesmo tempo – e ai vem a contundência do escrito – declara que não se candidatará à reeleição de deputado federal, em 2010.

Não se pode negar ao ministro a qualidade de político transparente – até chorar, se preciso for, como já o fez, certa vez, no plenário da Câmara Federal, ele chora – assim como não lhe pode ser negado a grande capacidade de se ajustar às conveniências, como na última eleição para governador, quando, rejeitado por Paulo Souto, como consta que foi, não titubeou em se engajar na campanha de Wagner, o que o levou à pasta ministerial.

Isso posto e afastando a possibilidade do seu artigo ter sido um “golpe de mídia”, como interpretaram alguns dos seus adversários, Geddel Vieira Lima deixou mais de que claro, mesmo sem dizer diretamente, que será candidato a governador da Bahia, em 2010. Sabiamente, porém, deixou espaço para flexibilização ou para leituras pelas quais possa escapar no futuro: a possibilidade de ser candidato a senador. Ou seja, colocar Wagner na parede, por enquanto, de jeito nenhum, embora tenha deixado o PT desconcertado.

Conhecendo-se, como se conhece, o espírito irrequieto e dinâmico, para não falar ambicioso, do sagaz ministro, é certo que ser senador não é prioridade sua, pelo menos no que depender dele. As modorrentas sessões do Senado não cabem em seu espírito. Mais uma vez assim colocado, pergunta-se: como e com quem ele partiria para uma campanha de governador? A eleição ainda será em 2010, mas a avaliar pelas circunstâncias de hoje, ele não depende de ninguém e pode muito bem sair com sua própria luz.

É ministro de importante pasta da República, não há resistência do presidente Lula, tem um PMDB forte e elegeu uma boa base de prefeitos, nas últimas eleições. Só em nossa região, terá Livramento, Paramirim, Brumado e Rio de Contas e não será difícil seduzir Dom Basílio, onde perdeu para o PT.

Com métodos próprios e sob uma certa inspiração carlista – cujo espólio lhe está sendo atribuído - partirá para ter o apoio de Jaques Wagner, com tal ousadia que nem repara na própria ambição de reeleição do governador. Tanto que tem evitado confrontar-se direto com ele, o que preservou mesmo tendo derrotado o candidato do PT, na eleição de prefeito em Salvador, conseguindo reeleger uma verdadeira mala sem alça.

E observem que, nesta eleição, teve o apoio, no segundo turno, do neto do seu maior adversário e perseguidor político, senador Antônio Carlos Magalhães. Nas projeções para 2010, não se pode desprezar, de jeito nenhum, essa circunstância. Na esgrima silenciosa, Wagner também evita colidir com o ministro. Por enquanto e até o registro das candidaturas, em 2010, um precisa, desesperadamente, do outro. Só vão mostrar os dentes, no último ato, se for o caso.

Geddel sabe que se tiver o apoio de Wagner, em 2010, ganhará fácil, para governador. Mas sabe também que se tiver Wagner como adversário, ganhará mais fácil ainda. Nenhum analista até agora se arriscou, mas, no momento, a chapa mais provável, entre os dois, é Geddel governador e Wagner senador.

A não ser que Lula tenha outro plano e consiga impô-lo à Bahia, já que os dois são da sua base aliada. Dessa forma, fica claro que Geddel Vieira Lima consultou muita gente antes de publicar seu artigo, um texto numerus clausus, mas somente se lido em sentido contrário.

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11.11.2008

Para quem ainda fica rubro

Não há debates de idéias em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, muito menos em torno do planejamento ou gestão pública e nem da organização do pensamento coletivo. O passado, o presente e o futuro começam e terminam no primeiro ponto onde se possa tomar uma cerveja bem gelada, de preferência falando da vida alheia.

Se os alunos vão mal nas escolas, se a pobreza recrudesce, se os entulhos permanecem obstruindo ruas e passeios, se vereadores trabalham menos de oito horas por mês e vão ganhar R$3.715,00, se o gari ganha R$7,00 por dia, se o dinheiro público é drenado para o bolso privado, não tem a menor importância. Ninguém se abala com isso.

O Tribunal de Contas dos Municípios – TCM acaba de emitir parecer prévio rejeitando a prestação de contas da Prefeitura Municipal, referentes ao exercício de 2007, repetindo o que aconteceu em relação a 2006. E há fortes indícios de que as de 2008 terão o mesmo destino. Todas na gestão do Dr. Carlos Roberto Souto Batista.

Qual o significado e conseqüências disso? O temor é de que seja significado lógico nenhum e conseqüência prática zero. Mas cabe frisar que as rejeições não se deram por pressão política nem por sadismo dos conselheiros e sim por irregularidades inconsertáveis, face ao desrespeito à lei – como fraudes em licitações - conforme apontado na decisão do TCM.

Significado pode até ter, que seria a desoladora constatação de que não só o fictício Reino da Dinamarca estava podre. E também de que o pudor que deveria nortear o comportamento humano e a vergonha que deveria corar aqueles que recebem um mandato público foram varridos definitivamente da política brasileira.

Nem mesmo as pequenas comunidades como a nossa, onde famílias ainda tomam sal e café emprestados ou enviam aos vizinhos pedaços de tortas nos aniversários, ficaram a salvo. Ao contrário, muitas vezes, a importação e acolhimento de valores, ao invés do engrandecimento e glória, acabam tendo efeitos nefastos.

Muitos criticam – e com certa razão – o mandonismo, a incompetência, o provincianismo, o autoritarismo e os enriquecimentos ilícitos do passado, não raro esquecendo que tudo isso foi substituído por tudo isso e mais o cinismo, a arrogância e o ilegalismo deslavado.

Falamos do significado, mas e quanto às conseqüências? Não há se quer um vislumbre dela, a não ser que tenham sido meros acidentes a recondução, pelo eleitorado, da administração considerada improba pelo TCM e a decisão da vetusta Câmara de Vereadores, dita representante do povo, que homologou os atos de improbidade.

O fio de esperança, para quem acredita que possa existir, está no Poder Judiciário, de cuja apreciação nada escapa, segundo a Constituição Federal. Mas, para tanto, será necessário que outro órgão, o Ministério Público, para onde o TCM encaminha os processos, cumpra sua magistral função constitucional e impetre a competente ação de responsabilização dos culpados.

Se nada disso ocorrer, para o rubor dos que ainda conseguem se envergonhar, ficam ai os indignos e infames exemplos, nos quais, certamente, se espelharão nossos jovens e crianças, dando-nos a certeza de que, em nosso Brasil, o que já é muito ruim pode ficar ainda muito pior!

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