Página Política | Raimundo Marinho

 

23.03.2008

Mudança de hábito

O modelo político brasileiro não tem similar no mundo. Podemos considerá-lo nefasto e repulsivo, conclusão a que chega qualquer que se disponha a estudá-lo. Cientificamente talvez não seja adequado se expressar desse modo, mas jornalisticamente sim. Já tivemos presidente com os mais variados perfis, de ditador civil a ditador militar. Dada à sua origem, não podemos negar ao presidente atual o título de porta-voz dos pobres, junto à mais alta cúpula do poder. Mas como isentá-lo do uso dessa condição para lá permanecer? De forma semelhante também não fizeram ricos e intelectuais? E como peca Luiz Inácio da Silva? Em nosso modo de ver, governando do mesmo modo e com a mesma estrutura que herdou daqueles que tanto combateu. É decepcionante? É, sem dúvida. Tinha outro jeito? Não, ou era isso ou nada.

O Brasil zerou a dívida externa, o que era tido como inimaginável. Mesmo assim, não houve muitas comemorações. A que custo? Ao mesmo com que se endividou, gerando mais pobreza. Essa condição superavitária só vai produzir reflexos daqui para frente, quando pouco poderá fazer o atual presidente. Haverá alguém com interesse e capacidade de administrar o crédito e quitar a dívida sem esvaziar o caixa? O interesse maior, provavelmente, será repartir o dinheiro entre os locupletantes de sempre.

A idéia da gestão do crédito, pagando-se o débito com a rentabilidade, exige um “Lula II” no poder, não necessariamente um sucessor eleito por ele, até porque seu fôlego acabou. Frisa-se que a rentabilidade referida não pode ser usada só para amortecer o endividamento. Isso equivaleria volta ao passado. Parte dela terá de ser usada no financiamento de ações em favor da redução ou mesmo eliminação da nossa miséria endêmica. Mas, para tanto, é necessário que, antes, ela deixe de ser cabo eleitoral dos candidatos a presidente.  Vê-se, por ai, que o debate político e econômico no Brasil precisa mudar de foco, urgentemente.

Nas comunidades interioranas, como Livramento de Nossa Senhora, Bahia, então, o atraso é ainda maior. Tudo gira em torno de picuinhas e até os eleitores apostam para ver quem ganha a quebra de braço, como em um jogo de futebol. Não há análise possível, capaz de abrir uma luz no sentido de se achar uma opção política, no quadro vigente, que conduza ao desenvolvimento. As cartas que estão vindo à mesa só apontam para o passado, nada de avanço, de expectativas.

Nas ruas, é onde se colhe as impressões mais reais. Conversei esta semana com um senhor, jovem, que varria a rua onde mora, queixando-se do abandono em que o local se encontra. Língua solta, confessou que seguia a corrente política do ex-prefeito, até se convencer de que a Administração era ruim. Então, decidiu mudar e aderiu ao prefeito atual, em quem disse ter votado, “esperando que as coisas mudassem, mas pioraram”, anunciando que este ano vai escolher uma terceira opção. E tem? “É, realmente não tem”, respondeu e citou o nome dessa opção. Poucas chances.

Melhor foi a conversa eletrônica que tive com um político, descontraidamente, a qual transcrevo, sem mencionar seu nome, por apresentar uma análise interessante do quadro político local:

- E as novidades? Como fica o PT de Livramento com a eleição de Jonas Paulo? (iniciou o político)
- Em Livramento não tem PT. Tem Ricardo Matias e Gerardo Júnior correndo para um lado e Ugolino Lima e Enésio Oliveira correndo para o outro. Juntos, um time perdido em campo. Com Jonas Paulo, ficará mais fácil para Wagner (governador Jaques Wagner) empurrar o PT local para o colo de Emerson Leal.
- Talvez sim, talvez não.
- Você fica com que “talvez”, o “sim” ou o “não”?
- Fico com o sim.
- Tudo também pode caminhar para um candidato único, sob o comando do governador. Difícil, porém, é convencer Geddel (ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB) disso.
- É, vai depender do comprometimento do governador com Geddel, mas vai depender de como Leal (Emerson Leal) vai costurar os acordos
- O acordo será muito fácil, pois terá de vencer sua própria resistência. Basta ceder um pouquinho e o acordo estará selado, pois o resto do grupo é formado por meros coadjuvantes.
- É sim e Leal está disposto a ceder. Se for para fazer um acordo, ele será capaz de apostar em uma terceira via, até mesmo um nome fora dos que estão posto, incluindo ai Lia Leal (esposa de Emerson Leal).
- Exatamente. Para tal acordo, só há três chapas possíveis. l) Emerson na cabeça e Carlão vice. 2) Carlão na cabeça e Emerson vice. 3) Ao invés deles, seus indicados (de forma pura ou misturada). Misturada que falo é Emerson indicando um vice ou Carlão indicando um vice em seus lugares, na chapa do outro.
- Não será possível esta conjuntura com Carlão. Falo de uma terceira via das oposições com o apoio de PT, PC do B, PSDB e DEM.
- Mas ai não é terceira via. Essa é a via que está sendo costurada por Emerson. Falei de um chapão, comandado pelo governador.
- Não há possibilidade, pois o governador não confia muito no PMDB.
- Por isso, topará o acordo, se ficar com a cabeça de chapa.
- Acredito que Leal vai liderar o bloco das oposições, ou sendo cabeça ou indicando a terceira via.
- Isso já está claro. O que falta clarear é, exatamente, sendo ambos da base de apoio do governador, é como este se comportará. E a expectativa quanto a isso cresce na medida em que eles não estão acostumados. Isso é dos tempos da "Arena 1" e "Arena 2" e dos "PFLs" da vida.
- Pois é, com certeza Leal saiu na frente, pois já conversa com todos.
- Não é à toa que é considerado favorito!
- Sim, ainda tem uma carta na manga, que é lançar um nome que possa fortalecer mais ainda a união.
- Fora de Carlão e de Emerson, que certamente formarão as duas forças que disputarão as eleições, você vê espaço para um terceiro candidato, capaz que desequilibrar o processo?
- Se o candidato for apoiado pelas quatro forças, com certeza. O povo deseja algo novo, Parece que cansou de doutor.
- Então, vai ter que esperar.
- Porque você acha?
- O quadro atual indica isso. Carlão domina uma estrutura de um lado e Emerson domina a do outro. Não há mais tempo para se construir esse "algo novo" antes da eleição.
- Não há necessidade de construir. Política é muito dinâmica. Se um nome surgir como consenso do grupo de quatro (refere-se à via das oposições), tem muita chance de pegar.

Esse diálogo dispensa análise pessoal mais ampla. De um lado, o analista eqüidistante e, do outro, um político conhecedor da realidade sobre a qual falou. Deixou claro que ele também considera o atual e ex-prefeitos como favoritos, mas acredita e sutilmente deixa antever que integraria o que chamou de segunda via das oposições. Mas de que vale análises dessa natureza e como ela se enquadra no que foi exposto na abertura deste texto? Há utilidade nisso. Primeiro coloca um pouco de luz na questão da política local e, dessa maneira, serve de instrumento a quem deseja atuar nele, como adesista ou como transformador.

 O enquadramento nas considerações expressas na abertura só é assimilável para as mentes abertas e inteligentes, capazes de entender que o município é uma unidade da Federação, constitucionalmente reconhecida, e um microcosmo político e econômico. Aquele que ousar pretender o alto posto de Prefeito necessita ter essa visão, com maior ênfase no administrativo e no econômico do que no político, pois, deste, bons assessores podem cuidar. Porém, a gestão que se seguirá só será exitosa e só corresponderá aos anseios da população e trará progresso ao município se o gestor souber o que, de fato, significa isso.

Assim, é salutar que desprezemos as cantilenas politiqueiras e nos concentremos no que, de fato, vai causar impacto, negativo ou positivo, nas nossas vidas, no futuro da nossa cidade, do nosso município e, consequentemente no futuro de nossos filhos e netos. Só assim vamos poder eleger um prefeito capaz de conduzir a gestão pela ótica dessa necessidade. Enquanto os politiqueiros se esgoelam, a comunidade deve se organizar para aprender como fazer uma boa escolha e ser cobradora implacável dos eleitos.

É como trocar o “hábito” da madre superiora, mas é preciso!

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Gasolina cancelada

Na sessão do último dia 3 de março de 2008, a Câmara de Vereadores, em votação unânime e sem comentários, revogou a Resolução nº. 18/2007, que autorizava o custeio, para cada vereador, de até 200 litros de gasolina, mensalmente, e 300 litros para o presidente da Casa. A resolução, baseada na Lei Municipal nº. 1.044/2007, foi motivo de muita polêmica e ensejou uma ação civil pública, impetrada pelo Ministério Público, por falta de respaldo constitucional. Os vereadores se anteciparam à decisão judicial e revogaram a resolução, mas a ação deverá prosseguir para obtenção do ressarcimento dos valores que já haviam sido pagos, caso também não sejam devolvidos espontaneamente.

 

Espólio foi repartido

O espólio jurídico deixado pelo advogado Lourival de Almeida Trindade, ao ser nomeado desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia, já foi repartido. Seu escritório de advocacia, que prestava serviços às prefeituras da região, inclusive a de Livramento de Nossa Senhora, continuará funcionando, agora conduzido por uma de suas filhas, também advogada. Para a vaga de assessor jurídico que deixou na Câmara Municipal de Livramento, foi nomeado o advogado Thiago Gutemberg, do escritório Monteiro & Gutemberg Advocacia e Consultoria, sediado em Salvador.

 

Só entre as mulheres

Continuam repercutindo, entre as próprias mulheres, as frases espalhadas pela cidade de Livramento de Nossa Senhora, saudando-as pelo transcurso do seu dia, 8 de março. A mais comentada é a que diz: “Deve-se temer mais o amor de uma mulher do que o ódio de um homem”. O confeccionador da faixa parece não ter desejado propriamente criar polêmica, mas tão somente dizer o quanto uma mulher é forte e determinada quando ama. Porém, não atentou para o duplo sentido que muitos estão extraindo da mensagem. Os maliciosos de plantão não perdem tempo e já perceberam que a sigla da Associação das Mulheres Atuantes de Livramento – AMAL, que cuidou das faixas, também não foi feliz, pois, lida ao contrário, forma a palavra “LAMA”.

 

Fora da aldeia global

A mentalidade segregacionista e egoísta do homem tem dificultado a difusão do ecumenismo, da globalização social e, principalmente, a ampliação do sentido da aldeia global, como demonstra o episódio da detenção e deportação de brasileiros no aeroporto de Madrid, na Espanha, seguida da retaliação do governo brasileiro, passando a fazer o mesmo com cidadãos europeus que desembarcam no Brasil. De fato, além do cumprimento das regras e acordos internacionais, há que haver reciprocidade. Mas tudo isso mostra a distância em que a humanidade, na verdade, se encontra da grandeza espiritual e do real desenvolvimento civilizatório.

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