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(Atualizado em 13.12.06)
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O jornalista Jeremias Macário vem lançar livro em Livramento

Jeremias, uma voz
pela imprensa ética

De compleição física aparentemente frágil, mas de personalidade forte, “esquentado no bom sentido” e “um tanto estourado”, como ele mesmo diz, mas suave quando isso torna necessário, Jeremias Macário é um típico homem do sertão. Diplomou-se em Comunicação, com habilitação em Jornalismo, pela Universidde Federal da Bahia e, depois de militar por muitos anos em Salvador, voltou ao interior. Não para a sua Piritiba, mas para Vitória da Conquista, ainda pelo jornal A Tarde, onde chefiou por muitos anos a sucursal local. Lá conheceu o que é fazer jornalismo no sertão, rincão brasileiro sempre dominado pelos coronéis, antes violentos e sanguinários e hoje agindo por meios mais sutis, mas sempre com o propósito de calar adversários e encobrir as verdades que lhes contrariem. Depois de muitos anos como jornalista no Sudoeste baiano, o também escritor Jeremias resolveu escrever e editar a obra “A Imprensa e o Coronelismo no Sertão do Sudoeste”, com apoio da Associação Baiana de Imprensa, que será lançado também em Livramento, próximo dia 30 deste, na Câmara de Vereadores, às 18 horas (a Câmara, com apoio do presidente Marilho Matias e demais vereadores, está convidando autoridades, empresários, professores, estudantes e a sociedade livramentense em geral, para prestigiar esse importante evento cultural, inédito na cidade). A propósito do lançamento do seu livro, o escritor e jornalista Jeremias Macário concedeu a seguinte entrevista ao “O Mandacaru”:

O Mandacaru - Você costuma se denominar de "catingueiro" e demonstra muito orgulho disso. Explica para nós o que significa de fato ser um "catingueiro" orgulhoso?

Jeremias - Nasci  e passei minha infância entre o sertão-catingueiro de Mairí e Piritiba, na Bahia. Convivi com aqueles homens sofridos e calejados, mas com disposição, honestidade e seriedade. Pessoas que têm como identidade o compromisso com a palavra. Peguei no pesado da roça com meu pai catingueiro-cismado, que não temia trabalho e enfrentava a luta para ser um homem correto e cumpridor de seus deveres. Ser catingueiro é tudo isso e mais o jeito de ser meio teimoso, insistente e diferente no trato. Correm em meu sangue estas características. Bem que nossos políticos podiam ser catingueiros, pelo menos na sinceridade. Tenho orgulho de ser catingueiro sim, e assim muitos me chamam.

O Mandacaru - Faça um resumo da trajetória do menino Jeremias, desde que saiu da pequenina Piritiba até se aposentar trabalhando num dos maiores jornais do Brasil, A TARDE.

Jeremias - Depois de fazer  o primário em Piritiba, fui ser coroinha do vigário de Mundo-Novo. De lá, um tempo em Ruy Barbosa, no Bispado, até o Seminário para Padres, em Amargosa, no ano de 1962. Em 1968, fui para Salvador, onde completei o clássico (curso médio, hoje), até o final de 69, no Seminário Central. Em 1970, deixei o seminário e fiz vestibular para o curso de Jornalismo da UFBA.  Fui aprovado e, no final de 73, diplomado bacharel em Comunicação, quando já trabalhava no jornal A TARDE, como revisor, depois de um  teste feito pelo então redator-chefe, jornalista Jorge Calmon. Mais tarde, fui ser repórter da Editoria de  Economia e Reportagem Geral; depois, editor de Economia. Em 1991, passei a chefiar a Sucursal A TARDE de Vitória da Conquista. Também fui assessor de comunicação de diversas empresas e órgãos públicos.  Trabalhei quase 33 anos em A TARDE. Aposentei-me, mas continuo atuando no jornalismo como autônomo. Como jornalista, conheci a Europa, quando passei uma temporada na Alemanha; e fui premiado por várias reportagens ao longo da minha carreira.  

 O Mandacaru - Conta-se que você é muito "esquentado", tem sangue de "catingueiro brabo". Já teve alguma briga série no exercício da profissão de jornalista? Como foi?

Jeremias - “Esquentado” no bom sentido, mas acham mesmo que sou um tanto estourado, apressado para resolver logo as coisas e agoniado. Próprio do temperamento. É que o catingueiro não gosta de ser destratado ou ameaçado e nem  que duvidem de seu caráter, da sua seriedade e seus princípios.  Além de prefeitos e funcionários de escalão menor que não gostaram do que escrevi sobre irregularidades em suas funções, tive um “pega pra capar” com um delegado  de Vitória da Conquista, porque falei em torturas comandadas por ele. A coisa foi feia e fui ameaçado, inclusive com uma sórdida trama para me expulsar da cidade. Graças ao apoio de colegas, do Sindicato, OAB e da Federação Nacional dos Jornalistas, resisti, mas me deixou com muito medo. Foi o fato que mais me marcou na profissão. Fui aconselhado a deixar a cidade, mas não aceitei por considerar uma desonra à profissão. Tem momentos na vida em que não podemos mais recuar.

O Mandacaru - Que fato mais impressionante já testemunhou como jornalista?

Jeremias - Vários, mas alguns me deixaram chocados. Nas matérias sobre seca e fome pelo sertão, uma vez cheguei à casa de um pobre trabalhador, com mulher e sete filhos menores passando fome.  Era meio-dia e quando pedi para me dirigir até sua cozinha, a mulher ferventava  uns caroços de feijão  na panela,  para matar a fome dos filhos. Foi triste ver aquilo. Não tinha trabalho no seco sertão, nem comida para as crianças. Dei uns trocados e recebi mil agradecimentos. O pobre homem chorava e me abraçava quase ajoelhado.  Teve também a cheia do Rio São Francisco, em 1992, quando várias cidades ficaram debaixo d’água, como Malhadas. Famílias fugiam desesperadas da enchente, com crianças e objetos nos braços.  Cito ainda o acidente de uma carreta, ano de 1991, em Vitória da Conquista. Morreram, no local, mais de 30 pessoas, a maioria jovens. Era Dia das Mães. Foram estraçalhados e mutilados. Coisa horrível!   

O Mandacaru - "Imprensa e o Corenelismo no Sertão do Sudoeste" mostra vários cenários marcantes da realidade sertaneja, um deles é a preocupação dos poderosos em evitar a divulgação da verdade. Em que isso difere hoje da época do verdadeiro coronelismo? Ou será que o coronelismo ainda existe?

Jeremias - Difere nos métodos aplicados. Naquela época, era mais rústico e grotesco. O coronel matava, mandava matar ou surrar o jornalista, sem muita conversa. O ato era muito evidente e acintoso. Hoje atua uma espécie de máfia, mais sofisticada, envolvendo dinheiro e poder. Há os que compram e manipulam a informação. Políticos inescrupulosos lá de cima e cá de baixo (nem todos, claro) tentam amordaçar a imprensa, para  degolar a  liberdade através de atos  arbitrários. Ficar no poder por mais de 30 anos, por exemplo, enganando, não cumprindo promessas, loteando comandos e desviando recursos do erário, são formas de coronelismo e de violência contra um povo sem politização e necessitado até de alimento para sobreviver. Tudo isso é coronelismo. E a impunidade continua.

O Mandacaru - Compensa ser jornalista num ambiente como esse? Que resultados positivos você consegue colher e como a imprensa contribui para que o estado democrático de direito chegue ao sertão?

Jeremias - Quando o profissional é ético, compensa sim, porque ele está cumprindo com a sua função, que é levar a informação com seriedade, ser porta-voz da sua comunidade. Durante meus 35 anos de jornalismo, sempre procurei ser ético e levar meu trabalho a sério. Tenho consciência que durante este período cumpri com meu dever e isto é minha maior realização. Os erros inerentes à profissão são perdoáveis porque somos humanos. O que não devem ser perdoados são erros tendenciosos e cometidos por omissão, visando outros interesses. Infelizmente, a imprensa do sertão ainda é muito refém das prefeituras e se pratica mais um jornalismo de situação. Muitos donos de veículos de comunicação são aventureiros e estão  mais preocupados com o faturamento,  em tirar proveito próprio. Preocupa-me  a proliferação de jornais pelo interior, sem consistência e critério.  Por sua vez, os políticos alimentam este tipo de imprensa, visando a perpetuação em seus cargos, bem como, controlar a população. Infelizmente, temos muitos veículos de aluguel. Só para se ter uma idéia, a grande maioria das emissoras de rádio está nas mãos dos políticos. Não temos uma informação democrática. Os sindicatos dos jornalistas e a Federação, bem como as instituições, têm o dever e a obrigação de desatar este nó; e exigir a democratização da imprensa. Isto será possível através da organização da sociedade. Só com seriedade, qualidade, conteúdo e profissionalismo a imprensa pode contribuir para que o estado democrático de direito chegue ao sertão. O lamentável é que muitos ainda brincam de fazer jornalismo e proliferam, cada vez mais,  os veículos sem compromisso com a opinião pública.  

O Mandacaru - Porque você trocou a capital pelo interior? Houve algum crescimento profissional com essa mudança?

Jeremias - Primeiro foi o estresse da capital e queria fazer algo diferente. Mudar de cenário jornalístico. Foi uma das melhores coisas que fiz no jornalismo e serviu muito para meu crescimento como profissional. No interior, se aprende muito quando se leva o trabalho a sério. Na capital, ficava restrito à redação e pouco conhecia da estrutura de produção industrial e administrativa do jornal. Foi um grande desafio. Como chefe da Sucursal de A TARDE, em Vitória da Conquista, tive que aprender como funcionava a circulação, o sistema de assinaturas, publicidade e anúncios. Terminei virando também repórter fotográfico, além de redator.  Costumo dizer que, no interior, o dono ou representante de um jornal faz até a faxina da redação.

O Mandacaru - De que forma a imprensa, na sua opinião, ajuda as comunidades miseráveis do interior? Ou será que atrapalha ou é omissa ou esse não é seu papel?

Jeremias - Levando o conhecimento e mostrando os direitos das comunidades. Só ajuda se for porta-voz da população pobre e se tiver um compromisso com a opinião pública. Infelizmente, está ajudando pouco, porque a grande parte da imprensa manipula ou é manipulada pelo poder público e privado. A nossa imprensa hoje tem um partidarismo escancarado. Pouco questiona e investiga os fatos. Vai pouco à periferia. Esse comportamento não é somente da pequena imprensa, mas também da grande. E o pecado é ainda mais grave porque a grande imprensa tem maior penetração e deveria ter mais responsabilidade com a informação. Cito a revista Veja e, no caso específico e atual da transmissão dos jogos da Copa do Mundo de Futebol, com exclusividde pela rede Globo de Televisão. Temos alguma escolha de comentarista e de canal?  Está aí evidenciada a ditadura da grande imprensa. Temos que lutar pela democratização da imprensa.  

O Mandacaru - No interior, parece que estamos em outro país. Os municípios são, na verdade, controlados por novas versões de coronéis. Como essa realidade poderia ser melhorada?

Jeremias - Só através da organização e conscientização da sociedade. Infelizmente, com pouca instrução e ensino deficitário, isso demora muito a chegar. As ONGs, instituições, OAB, sindicatos dos jornalistas e outras entidades têm que lutar por uma informação de qualidade e democrática. As organizações têm que ir além das reivindicações sociais e brigar também por uma imprensa séria. Os maus jornalistas têm que ser também denunciados e expurgados.

O Mandacaru - Porque escolheu Livramento para lançar o seu livro? Como ele será útil para os livramentenses em particular?

Jeremias - Por ser um município de grandes nomes na história cultural e política da Bahia, terra de Hermes Lima, de Lindembergue Cardoso, de José de Castro Meira e tantas outras figuras ilustres. Portal da Chapada Diamantina, Livramento não é somente grande produtor de manga e maracujá. Teve seu crescimento econômico através do projeto de irrigação. Sua comunidade se preocupa também com o desenvolvimento cultural. Além do mais, cito Livramento e Rio de Contas em “A Imprensa e o Coronelismo no Sertão do Sudoeste”.  Contei também com o apoio do companheiro-jornalista Raimundo Marinho e do presidente da Câmara de Vereadores, Marílio Machado Matias, principalmente, que procuraram valorizar a obra que resgata a história da imprensa escrita no sudoeste. Não posso deixar de citar também o apoio dos prefeitos da região, a exemplo do Dr. Alfredo Machado Matias, de Dom Basílio, e de toda sociedade de Livramento. Juntos estão incentivando este evento e, para mim, é muito gratificante expor meu trabalho ao julgamento dessa valorosa comunidade.