Página Política | Raimundo Marinho
28.10.2007
Os ungidos e os bobos
A vida política em Livramento de Nossa Senhora promete mudanças e muita movimentação até as próximas eleições. A um ano do pleito, porém, muita água ainda há de correr sob a ponte, mas é certo que, na essência, pouco ou quase nada haverá de esperanças. No Brasil, e não é diferente em nossa Pasárgada, o fenômeno político envolve, de um lado, artimanhas de gabinetes, onde os ricos traçam planos, estruturam suas carreiras e asseguram o bem-estar de suas famílias e apaniguados. Para isso, usam a própria máquina pública, onde o bolo é repartido entre os eleitos. Eleitos no sentido de bem aventurados e ungidos com as graças da deusa política.
O plano inclui estratégias de engabelamento e colocação do docinho na boca do eleitor, que deveria ser dono da doceria e do poder, mas não é. Como nas corridas de automóveis e nos campeonatos de boxe, há os marcados para ganhar e os que devem apenas ficar comendo pelas beiradas, tendo suas respectivas pagas, de modo a não atrapalhar os vencedores pré-definidos. Na política, talvez a situação seja ainda mais cruel para o eleitor, que nem as beiradas lambe, tão somente é obrigado a votar, pelo que ainda se considera importantes e vibra com isso.
Nesse “se achar importante e vibrar” pode estar a chave de tudo, dado que é o sustentáculo dos que dominam o poder, constituindo-se o outro lado que envolve o fenômeno político. Enquanto isso não for desfeito e a verdadeira importância mostrada, com os bobos se percebendo como tal, nada mudará. E os políticos continuarão cada vez mais políticos, na pior acepção em que hoje são tidos, os ricos cada vez mais ricos, os eleitores cada vez mais eleitores e os nossos 88% de pobres e indigentes, no caso de Livramento, cada vez mais pobres e indigentes.
Para analisar e compreender a política de Livramento, com foco nas próximas eleições, é necessário ter em mente a mudança de significado que está ocorrendo com os números “15” e “25”, defendidos pelos respectivos seguidores com o fervor das torcidas de um time de futebol. E enquanto acompanharmos as disputas políticas como se fossem partidas de futebol nunca vamos sair das zonas de rebaixamento. O que se tem a observar, no momento, é que essa esdrúxula ideologia numérica acaba de ser trincada, como sempre, por arranjos engendrados à revelia do eleitor.
O trincamento, para ficar com uma expressão amena, deu-se com a perda da esperança dos torcedores do “15”, ao descobrir que elegeram um que não deu nem “19” e que a mudança do mundo não começa e nem termina na “urna”, nem eleição é como um jogo de futebol que, ao apito final, enrola-se a bandeira do time e volta-se para casa, tendo perdido ou ganhado. No “25”, a fenda talvez seja ainda maior, pois ele sempre foi a personificação do Dr. Emerson Leal, que pulou 20 degraus e foi para o 45.
No controle do “25”, ficou outro doutor, Paulo Cézar Cardoso de Azevedo, que está empolgado com a herança. A novidade e a especulação sobre o que acontecerá doravante consistem exatamente no questionamento de para onde marchará a torcida. Se a paixão era pelo número, certamente acompanhará o Dr. Paulo e sua “bandeira 25”. Mas se era pelo “Priquitão”, vai tucanar e voar para o 45, o que só o tempo vai dizer.
Tucano pode não ter mais plumas que periquito, mas com certeza tem um bico bem maior. As apostas estão lançadas. Os do “15” precisam ainda ter certeza de que não foram anestesiados pela anêmica administração de Carlos Batista, que tem menos de um ano para provar que não passou de miragem a “União, Trabalho e Participação”. O pingo d’água em que terá de dar o nó será vencer os 19 degraus simbolizados pelos itens que anunciou como sendo seu programa de governo. Há boatos de uma pesquisa em que 71% dos entrevistados teriam respondido “NÃO” quando perguntados se o prefeito cumpriu o que prometeu.
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Três candidatos
O governador Jaques Wagner vai ter que administrar três candidaturas a prefeito em Livramento de Nossa Senhora: Carlos Roberto Souto Batista (PMDB), atual prefeito, que o apoiou na eleição estadual, ao lado do ministro Gedel Vieira Lima; Emerson Leal (PSDB), ex-prefeito, nomeado por ele para presidente da EBDA; e Gerardo Azevedo Júnior, do seu partido, o PT. Dificilmente ele deixará a turma dividida e tende a fazer um pacote só, tendo Emerson Leal como favorito para cabeça de chapa. Se assim ocorrer, será um golpe mortal na candidatura de Paulo Azevedo, do DEM.
Notícia deletada
A Prefeitura tirou do ar a notícia que veiculou no seu site sobre a visita do governador Jaques Wagner a Guanambi, no último final de semana, onde foi prestigiar a distribuição de sementes e adubos, pela EBDA, para os produtores de algodão do Vale do Iuiú, do qual faz parte o município de Livramento de Nossa Senhora. A dita matéria foi ilustrada com diversas fotos do prefeito Carlos Batista ao lado do governador, embora o Diário Oficial tenha registrado com discrição a presença de Wagner. Porque será que a notícia foi deletada?
Educação sofrida
O vereador Ilídio de Castro, da Câmara de Livramento de Nossa Senhora, na sessão de 15.10.2007, “Dia do Professor”, ratificando palavras de outro orador, destacou “a evolução que sofre a educação, citando leis que protege as crianças e adolescentes”. Foi muito feliz quando se referiu à evolução que a educação “sofre”. Só para lembrar, “sofrer” significa: ser atormentado, afligido por; padecer, ser vítima de, passar por, experimentar (coisa desagradável ou danosa), decair, declinar, padecer com paciência. Para tirar nota 10, o edil só faltou explicar qual a relação entre a educação e as “leis que protege as crianças e adolescentes” (sic).
“Tribuna Livre”
O presidente e o diretor do Sindicato dos Profissionais da Educação de Livramento de Nossa Senhora, respectivamente, Nairto Rego Meira e Givanildo Rocha Oliveira, escolheram a Câmara de Vereadores para marcar o transcurso do “Dia dos Professores” e inscreveram-se para falar na “Tribuna Livre” da Casa, que teve as galerias lotadas, registrando a passagem da data. Por uma concessão do presidente Marilho Matias, apenas falou Nairton Rego, sob a alegação de que fizeram a inscrição como cidadãos e não como representantes da entidade, embora isso fosse notório. Restrição ou apego ao rigor regimental?
Agente comunitário
O vereador Ricardo Matias, da Câmara de Livramento, bradou, mais uma vez, na tribuna, em favor dos agentes comunitários de saúde, que ainda não tiveram os direitos trabalhistas reconhecidos pela Prefeitura local, apesar da importância dos serviços que vem prestando. Embora timidamente, Ricardo foi, também, o único a se referir, até agora, à rejeição das contas da Prefeitura, pelo Tribunal de Contas, referente ao exercício de 2006, lembrando que fez vários alertas antes e lamentou que “infelizmente o município está na página vermelha, talvez pela primeira vez, do Tribunal de Contas dos Municípios”.
Mente eugênica
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, do PMDB, que tem cinco filhos, posicionou-se a favor do aborto, esta semana. Segundo ele, seria uma forma de conter a violência no seu Estado, afirmando que as taxas de fertilidade de mães faveladas são uma “fábrica de produzir marginal”. Se não for contido, logo vai declarar-se a favor da eliminação pura e simples do que for considerado marginal. É no que dá eleger políticos inábeis, que, ao invés de soluções inteligentes para os problemas, vomitam sugestões simplistas e atentatórias à dignidade humana.
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